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Revista Carta Capital/Nacional - Seu País
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

deficiência. Além disso, 13% não possuem quadra ou
ginásio e 11% não têm pátio para atividades ao ar livre.


As escolas fecharam há quase um ano. Nesse intervalo,
São Paulo, o estado mais rico da federação, pouco fez
para adequá-las ao “novo normal”. Nenhuma das
propostas do Manual do IAB foi acolhida. Nenhum
planejamento sobre a redução do número de alunos por
sala de aula – medida pedagogicamente importante e
viável no momento em que a taxa de natalidade cai no
Brasil – foi feito. São Paulo entende, de forma
equivocada, que eliminará o risco de contágio apenas
com a distribuição de álcool em gel e máscaras a
professores e alunos.


De outro lado, só se poderia falar em retorno seguro se
fosse garantido o direito à vida e à saúde à comunidade
escolar com uma campanha pública de vacinação que
conferisse prioridade aos profissionais da educação. É
falacioso o argumento de que não há vacinas
disponíveis. Essa é uma decisão política. Por que se
escolheu, desde 9 de fevereiro, a vacinação, em São
Paulo, de profissionais de saúde autônomos com mais
de 60 anos – muitos dos quais sem contato com
aglomerações, como psicólogos, nutricionistas e
fisioterapeutas – e não de profissionais da educação
básica, considerando que estes estão na linha de frente
e envolvidos em riscos ainda maiores?


Até o momento, aliás, o governo de São Paulo não
divulgou quantos profissionais da educação estão nesse
grupo. Levantamento feito pela Apeoesp entre seus
mais de 180 mil associados indica que cerca de 15 mil
professores são idosos. Quantos mais têm
comorbidades? Pesquisa realizada pelo sistema público
de saúde do Reino Unido, divulgada em janeiro pelo
jornal The Guardian, concluiu que as escolas
provocaram três vezes mais surtos de Covid-19 do que
hospitais naquele país. Segundo o estudo, 26% dos
grupos de infecção analisados estavam ligados às
escolas, enquanto 8% das infecções foram relacionadas
a hospitais.


Outro trabalho, divulgado em 9 de fevereiro e realizado
por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas
da Amazônia, da UFMG, da Ufam, da UFSJ e do
Instituto Butantan, mostra que está em gestação uma
terceira onda de Covid-19 com a variante manauara do
SARS-COV2 e que, para sua contenção, “é impensável
a volta às aulas presenciais para qualquer local do
Brasil neste momento”.

Coincidência ou não, mais de 200 profissionais da
educação se contaminaram na primeira semana de
volta às aulas em São Paulo, em 97 unidades de ensino
diferentes. Inclusive, em escolas particulares que se
prepararam mais adequadamente do que as públicas.

Os argumentos favoráveis à abertura das escolas
oscilam entre a desinformação e o cinismo. É
inconcebível comparar escolas (fechadas) a bares
(abertos e lotados). Um erro não justifica outro. Se o
poder público não foi capaz de fazer quarentenas para
valer, não pode agora flexibilizar o retorno às aulas
como se a pandemia tivesse acabado.

Tampouco se sustenta a tese de que sem aulas
presenciais os estudantes são acometidos por quadros
depressivos. Desde 8 de fevereiro, estimativa da
Apeoesp aponta que somente 5% dos alunos
retornaram às atividades presenciais, o que mostra o
receio das famílias com a pandemia. Ademais, não é a
falta de aulas presenciais que causa problemas de
saúde mental, mas a indignidade de uma vida marcada
pela privação de direitos fundamentais, tais como
moradia adequada e saneamento básico, situação
cotidiana de milhões de estudantes brasileiros.
Aprendizagem se recupera. Vidas não.

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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