JOSÉ SÓCRATES - Biden e Roosevelt
Banco Central do Brasil
Revista Carta Capital/Nacional - Colunistas
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas
Clique aqui para abrir a imagem
Clique aqui para abrir a imagem
Autor: Não informado
Joe Biden: “A minha mensagem para o mundo hoje é
que os EUA estão de volta, a diplomacia está de volta.
Ela é o centro da nossa política externa”. Mensagem
recebida. Diplomacia quer dizer diálogo por contraste
com imposição unilateral. Diplomacia quer dizer
negociação e não uso da força. Diplomacia significa a
procura de soluções políticas em detrimento de
soluções militares. Desde a Guerra do Iraque que não
ouvíamos nada assim. Diplomacia. O resgate dessa
palavra para o discurso político representa o regresso
dos Estados Unidos ao mundo. Ao mundo do direito
internacional, ao mundo da Carta das Nações Unidas,
ao mundo do princípio da resolução pacífica dos
conflitos. Os habituais cínicos da política internacional
que gostam de citar os estafados clichês sobre amigos,
inimigos e interesses perpétuos das nações apostaram
repetidamente que nada mudaria na política externa
norte-americana depois das eleições. Enganaram-se. O
discurso de Biden dedicado à política externa
representa uma virada política. Com uma só palavra,
diplomacia.
A batalha vai ser longa e dura. Trata-se de recuperar o
prestígio perdido na ordem mundial. O regresso ao
acordo de Paris sobre as alterações climáticas, à
Organização Mundial da Saúde e à Comissão de
Direitos Humanos da ONU e a retirada do apoio militar à
Arábia Saudita na guerra do Iêmen são decisões que
expressam a consciência da urgência. Não há tempo a
perder. Dizem alguns que, quanto à China e à Rússia,
tudo ficou igual. Não creio. Primeiro, ficou claro no
discurso que as disputas geopolíticas serão encaradas
como desafios diplomáticos e não como oportunidades
para exercitar qualquer tipo de fanfarronice militar ou de
maniqueísmo moral – nós os bons, eles os maus.
Segundo, os valores que conduzirão a política externa
foram apresentados com clareza e representam o
retorno ao melhor da tradição iluminista – direitos
humanos, dignidade humana, Estado de Direito,
democracia. A firme condenação do golpe de Estado
em Mianmar (que, aliás, contrasta com a indecente
posição do governo brasileiro) mostra que a mudança é
para se levar a sério. O mundo mudou e mudou para
melhor.