Newsletter Banco Central (2021-02-13)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

Revista Conjuntura Econômica/Nacional - Comércio
Exterior
terça-feira, 9 de fevereiro de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Davos

Observa-se, porém, que no campo da política comercial
as questões ressaltadas são as mesmas, desde o
governo Obama. Como as políticas comerciais e de
investimentos podem contribuir para a recuperação da
liderança dos Estados Unidos no comércio mundial num
cenário de ascensão da China?


No programa apresentado por Biden para sua eleição, a
China é destacada como uma das principais causas
para o desemprego dos Estados Unidos. Não são
mencionadas propostas de novas retaliações, mas é
pouco provável que Biden retire as tarifas impostas por
Trump, sem alguma negociação. Ressalta-se que
Biden, diferente de Trump, buscará o apoio da União
Européia para questionar o que entendem por práticas
desleais da China e poderá haver novas retaliações,
mas com apoio de outros países. A tensão China e
Estados Unidos continuará, pois é um tema consensual
entre republicanos e democratas.


Qual o papel da Organização Mundial de Comércio
nesse conflito? O Mecanismo de Solução de
Controvérsias (MSC) instaurado na criação da OMC, em
1995, tem sido considerado um dos principais
instrumentos para a evitar escalada de conflitos
comerciais. Trump bloqueou o funcionamento do
mecanismo ao impedir a nomeação de novos membros
para o Comitê de Apelação, além de não endossar a
candidata nigeriana Ngozi Okongo para a presidência
da instituição, apoiada por quase todos os membros da
instituição. Lembramos que as decisões na OMC são
por consenso.


Biden pode resolver essas questões e dar um novo
fôlego para a OMC. No entanto, uma questão crucial
permanece, as regras do multilateralismo defendidas
pelos Estados Unidos e as grandes economias que
pertencem à Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) foram construídas
tendo como referência as economias liberais de
mercado. A China não se enquadra nesse modelo


devido ao papel das políticas públicas como provedoras
de subsídios e financiamentos para setores eleitos pelo
governo como estratégicos para o desenvolvimento do
país, além da atuação das empresas estatais. Em seu
discurso na reunião do Fórum Mundial de Davos de
2021, o presidente chinês deu uma mensagem clara. É
a favor do multilateralismo, mas reconhece os diferentes
caminhos para os países se desenvolverem. Esse é um
ponto de conflito que irá permanecer e que ganha cada
vez mais destaque no ordenamento das regras
mundiais.

As questões antes relatadas são o cerne do debate de
como os Estados Unidos e a China irão conviver num
cenário em que duas grandes economias disputam
posições de liderança na economia global. As respostas
de Biden ainda não são claras e, a princípio, têm traços
do governo Obama quando procura alianças para deter
a China, e de Trump quando não abandona o discurso
do papel da China como um dos fatores de piora do
emprego e da competitividade das indústrias do país.

A principal diferença de Biden para Trump, entretanto,
está na agenda de fortalecimento da indústria dos
Estados Unidos. Trump apostou na retaliação comercial
e em medidas de inibição de investimentos para
estimular a redução da interdependência das cadeias de
produção entre os Estados Unidos e a China. American
first para Trump era um programa de ataque ao inimigo,
China, mas sem medidas claras de como fortalecer o
campo doméstico. O programa de Biden Made all by
America (Tudo feito na América) visa vencer a China
pelo fortalecimento dos setores domésticos
estadunidenses.

Os principais pontos do programa envolvem seis
iniciativas. Não iremos descrevê-las em detalhe e estão
disponíveis em: joebiden.com/ made-in-america. O
objetivo é mostrar quais são os canais eleitos por Biden
para o seu programa de Made all by America.
Free download pdf