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OPINIÃO - Um futuro pós-desilusão


Banco Central do Brasil

Revista Exame/Nacional - Opinião
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

Autor: Luciana Antonini Ribeiro


O desânimo entre os jovens, ou pandemials, aparece
entre os principais riscos globais. a pergunta é como
oferecer confiança diante da desigualdade de
oportunidades


Nossos jovens estão desiludidos. Isso é um fato já
conhecido. O que talvez seja menos conhecido é que
essa desilusão é um risco para nosso futuro como
planeta. No Relatório de Riscos Globais de 2021 do
Fórum Econômico Mundial, a desilusão jovem aparece
como a principal ameaça global negligenciada e cujos
reflexos sentiremos nos próximos dois anos. Uma
geração assustada diante do desemprego crescente,
dos cenários ambiental, econômico e político instáveis
— principalmente no Brasil.


Índices de confiança sempre foram observados por
economistas e empresários com rigor, já que direcionam
o “humor” de segmentos do mercado. O Índice de
Confiança do Consumidor, da FGV, é avaliado com
regularidade para definir, entre outras, as taxas de juro.
Pois bem, o que a análise do Fórum Econômico Mundial
nos traz é que os pandemials, jovens de 15 a 24 anos,
estão imersos num profundo desencanto. O que
faremos com essa informação? Como ela impactará
nossa recuperação? Como ela impactará a vida desses
jovens? Como oferecer otimismo e confiança diante da
desigualdade de oportunidades escancarada pela covid-
19?


No mundo, 13,6% dos jovens estão sem emprego. No
Brasil, são 36%. E, segundo o relatório, para os jovens
de 18 a 20 anos ficar um mês sem trabalho pode
significar uma perda de rendimento de 2% no futuro.
Mas o desemprego é uma das causas da desilusão.


O que ocorre é que os jovens de hoje vivem os efeitos


da segunda grande crise global em pouco mais de uma
década e o agravamento das condições climáticas,
sociais, de educação e da desigualdade, tanto de
gênero quanto intergeracional e econômica.

As políticas fiscais depois da grande recessão, iniciada
em 2008, exacerbaram essas diferenças, promovendo
prosperidade de forma desequilibrada. O mesmo
fenômeno observamos neste início de 2021, com os
muito ricos concentrando ainda mais suas riquezas.

Começamos o ano sem boas perspectivas para a volta
do ensino presencial, principalmente nas escolas
públicas, e com milhões de jovens sem acesso à
internet para seguir seus estudos — globalmente, 30%
não tinham a estrutura necessária para acompanhar o
aprendizado digital.

No Brasil, o patamar de pessoas sem acesso à internet
é muito maior. Os desdobramentos dessa interrupção
veremos nos próximos anos, com o aprofundamento
das desigualdades e da ameaçadora lacuna
tecnológica. Um fantasma para todas as gerações e que
pode deixar para trás quem não receber a atenção
necessária agora.

Como apresentar um novo cenário ao jovem? Algo
inspirador que se traduza em ação? Como engajar o
jovem para construir o futuro? Precisamos do ímpeto e
da ousadia juvenil para evoluir. Um dos caminhos é
estarmos atentos a suas inquietações. Durante a
pandemia, 80% dos jovens no mundo declararam que
houve uma deterioração da saúde mental. Com
sentimentos misturados de raiva, frustração, medo e
apatia. Precisam de ajuda.

Outro caminho é oferecer instrumentos, pela educação
e pelo treinamento, para que se reconectem com seu
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