57
Foto
José Carlos Carvalho
Para a NeuroPsyAI, este mapeamento é deter-
minante para fazer negócio e também para despis-
tar eventuais distúrbios ou doenças neurológicas
através de padrões de funcionamento do cérebro.
«Ainda não se consegue fazer uma monitorização
ao nível do neurónio, porque é demasiado pequeno
para a capacidade de resolução que temos. Numa
MRI só se consegue obter informação de conjun-
tos de neurónios existentes num voxel», recorda
Diana Prata.
Um voxel é uma unidade elementar de uma ima-
gem que pode ser comparável a um pixel tridimen-
sional. Conforme a resolução do dispositivo usado na
MRI, é possível ter voxeis de um a quatro milímetros
de aresta. De acordo com os sites especializados, um
voxel com três milímetros de aresta pode conter
mais de 630 mil neurónios.
Sem detalhe na informação, menor será a pro-
babilidade de conseguir moldar com precisão as
relações entre neurónios de diferentes regiões ce-
rebrais. Mas pode ser uma questão de tempo até que
se encontre forma de a informação detalhada chegar
às universidades, aos laboratórios de empresas, às
clínicas especializadas.... Ou até às salas de inter-
rogatório ou às caves mais soturnas do cibercrime.
SEI O QUE ESTÁ A PENSAR
Em circunstâncias “normais”, uma Ressonância
Magnética Funcional (fMRI; uma versão mais evo-
luída da MRI) durará um punhado de minutos. O que
pode ser suficiente para detetar uma maleita, mas
não permite ter dados sobre variações da atividade
de uma determinada região cerebral perante acon-
tecimentos corriqueiros ou incomuns do quotidiano.
Pelo que já há quem se dedique a fazer fMRI mais
prolongadas quando está em causa desvendar um
segredo que só os neurónios podem revelar.
«Há entidades que usam a fMRI para conhecer
tendências negativas nas pessoas. Por exemplo, a
Agência Nacional de Segurança dos EUA (NSA) já usa
esta tecnologia (durante inquéritos a suspeitos). São
ferramentas que vão para lá do ético e que permitem
apresentar várias fotos a uma pessoa e saber qual
dessas imagens ativa uma reação emocional, mas
que até pode não ser a esposa dessa pessoa. Isto é
algo que já se faz há 10 anos... imagine agora o que
é que já se faz (sem que ninguém saiba)!», lembra
João Paulo Cunha, investigador do INESC TEC.
Não é preciso pesquisar muito na Internet para
confirmar que o uso de fMRI com suspeitos de crimes
já se vulgarizou entre as autoridades dos EUA. A União
Americana para as Liberdades Civis tem vindo a ba-
ter-se para ter o acesso a registos de fMRI (e também
infravermelhos) usados tanto pela NSA, como pela
CIA e o FBI junto de diferentes suspeitos de crime.
Será este o princípio do fim dos segredos de cada
indivíduo? João Paulo Cunha admite que, teorica-
mente, será possível desenvolver uma ferramenta
que, à distância ou no local, permitirá decifrar o
que pensamos palavra por palavra – mas prefe-
re refrear os ânimos: «Ainda há vários níveis de
complexidade por resolver. Apenas foram dados
os primeiros passos».
HACKERS À ESPREITA
Da Fundação Champalimaud também se vislumbra
um longo percurso para percorrer até ao dia em que
os pensamentos deixam de ser insondáveis. «Dado o
estado da arte, o controlo de pensamentos, ou o im-
plante de ideias, continua a estar longe da realidade,
mas o controlo de comportamentos é, teoricamente
possível», conclui Marcelo Mendonça, investigador
do Centro Champalimaud para o Desconhecido.
O mote está dado: se há uma função que o cérebro
executa, então mais tarde ou mais cedo poderá ser
intercetada, decifrada e replicável. Os implantes nos
denominados gânglios de base para o tratamento
de epilepsia, comportamentos obsessivos-com-
pulsivos ou doença de Parkinson estão a caminho
da banalização, mas não esgotam as possibilidades
no que toca a próteses cerebrais. O Córtex Pré-
-frontal Dorso-lateral, o Córtex Orbito-frontal, a
Área Suplementar Motora, e o Córtex Cingulado
Anterior completam a lista das áreas consideradas
«preferenciais» pela comunidade científica.
Gonçalo Cotovio, investigador do Centro Cham-
palimaud para o Desconhecido, lembra que os mais
recentes avanços permitiram abrir caminho a novas
gerações de elétrodos que não só condicionam a
atividade de neurónios como captam a atividade do
cérebro. O que abre caminho a futuros dispositivos
que apenas atuam quando é necessário, permi-
tindo resolver com um rearranjo do órgão o que