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Foto
Lucília Monteiro
cia de 20 Watts, reconhece emoções, contextos,
e suporta a vida de um corpo – verifica-se que a
inteligência dos humanos permanece, em muitos
campos, imbatível.
«É uma questão de tempo até que o número de
palavras e de gestos (originados no cérebro) que
podem ser interpretados e replicados por um com-
putador aumente. Mas é também uma questão de
tratamento de grandes volumes de dados. O que
implica o desenvolvimento de sistemas que não
fiquem bloqueados a processar tanta informação»,
prevê Diana Prata.
Mais tarde ou mais cedo, a tentação de inte-
grar chips e memórias que funcionam, de forma
concertada, como acrescentos ou complementos
acabará por produzir os primeiros resultados, por
via da bio-informática ou qualquer outra tendência
tecnológica que surja entretanto. Mais uma vez, será
a doença o móbil da investigação: os primeiros pro-
jetos que dão conta de sistemas de fMRI, neuroim-
plantes, ou elétrodos externos que permitem que
tetraplégicos controlem cursores de computadores
ou interruptores de eletrodomésticos inteligentes
já revelaram que é possível combinar inteligência
natural com memória e processamento de disposi-
tivos externos – e é previsível que a miniaturização
eletrónica também produza efeito nas próteses
como produziu nas restantes áreas da tecnologia.
Será seguramente um salto evolutivo no que toca a
menorizar os efeitos das denominadas demências,
mas levanta mais uma vez uma questão perversa:
e se essas tecnologias forem usadas para criar su-
percérebros, que permitem que alguns humanos
ganhem supremacia sobre os restantes?
É uma hipótese a ter em conta, mas só poderá
concretizar-se ao arrepio do que prevê a deontologia
médica atual, recorda Miguel Coelho, especialista
em neurologia e professor da Faculdade de Medicina
da Universidade de Lisboa (FMUL): «A medicina
tem como objetivo tratar doentes e não maximizar
funções de pessoas que já se encontram bem. Além
de que essa possibilidade levanta outra questão: justi-
fica-se aumentar as capacidades de algumas pessoas
quando faltam recursos para tratar as pessoas que
estão doentes?».
Apesar da recusa em executar esse tipo de inter-
venção, o professor da FMUL admite que as fron-
teiras deontológicas possam ficar sob pressão. Boa
parte das cirurgias estéticas realizadas na atualidade
confirmam que a medicina nem sempre limita o
campo de ação aos objetivos clínicos. «Os limites
da ética podem ficar mais difíceis de definir com o
aparecimento de novas tecnologias. As próprias con-
vicções das pessoas vão mudando com o tempo».
O ciclo está montado: cabe aos neurónios decidir
o que vamos fazer com os... neurónios.
JOÃO PAULO
CUNHA JUNTO
A UM APARELHO
DE MRI DO
INESC TEC:
AS RESSONÂNCIAS
MAGNÉTICAS
JÁ SÃO USADAS EM
INTERROGATÓRIOS
A CRIMINOSOS