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N
/ PORTUGAL FAZ BEM
BOMBEIROS
Quando a sirene da crise da Covid-19
soou em Portugal, foram muitos os que de
imediato se voluntariaram para ajudar.
Munidos de computadores, impressoras 3D
e ferramentas de colaboração online,
criaram projetos para ajudar médicos,
professores e os milhões que estão em
casa. Esta é a história de como Portugal se
transformou num país de bombeiros digitais
Tex t o Rui da Rocha Ferreira Fotos D.R.
o sábado a seguir às declarações do primeiro-ministro António
Costa sobre o fecho das escolas [12 de março], Vítor Bastos co-
meçou a antecipar o vendaval que aí vinha – afinal de contas,
todas as escolas do país tinham recebido ordem de encerra-
mento, como forma de limitar a propagação da Covid-19.
“Achei que não podia estar fechado no meu conforto, ainda
que a trabalhar, e que podia ajudar colegas e alunos. E por que
não fazê-lo?” Vítor Bastos tem 48 anos e é professor no Colégio Vasco da Gama em
Belas, Sintra. Naquele sábado, decidiu criar um grupo no Facebook através do qual
antecipava dar apoio a alguns colegas professores na utilização de ferramentas para
comunicar com os alunos e de disponibilização de material online. “Vamos ter 200,
300 pessoas no máximo”, pensou na altura. Duas semanas depois, o grupo já tinha
ultrapassado os 21 mil participantes. Rapidamente o E-Learning Apoio, nome do
grupo na rede social, transformou-se no
porto de abrigo para milhares de profis-
sionais de ensino que viram-se forçados a
dar aulas a partir de casa e com os alunos
do outro lado do ecrã. Como consultar to-
das as mensagens enviadas pelos alunos
no Google Classroom? Quantas pessoas
são visíveis ao mesmo tempo no Microsoft
Teams? Como fazer testes online? Há algu-
ma plataforma para que os alunos possam
fazer trabalhos em pares, algo que na sala
de aula nem sequer se questiona? Estes são
exemplos de dúvidas que ‘voam’ no grupo.
Mas também se fazem avisos – sobre as
práticas menos transparentes da ferramenta
de videoconferência Zoom e que podem co-
locar em causa a privacidade dos alunos – e
webinars. “O nosso grupo tenta encontrar
várias formas para chegar aos alunos. Tudo
são boas soluções”, sublinha o docente. Não
foram precisos muitos dias até que o grupo
se tornasse ingerível para uma só pessoa,
sendo preciso chamar reforços. Atualmente
já são nove as pessoas que têm funções de
administrador no grupo, mas são muitos
DIGITAIS
Vítor Bastos também está ligado à criação do
SomosSolução.com, uma plataforma de doação
de material informático para alunos que não têm
acesso a computadores para o ensino à distância