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mais os que se têm voluntaria-
do para ajudar nas dúvidas que
têm surgido. Quando ninguém
sabe a resposta, pesquisa-se até
que a solução seja encontrada.
Apesar da incerteza que ainda
persistia sobre o funcionamento
do terceiro trimestre nas escolas
portuguesas [no data de fecho
desta edição], Vítor Bastos tinha
em si uma crença inabalável: de-
pois desta experiência forçada de
ensino à distância, a escola em
Portugal não volta a ser a mes-
ma. “Isto abre um precedente:
os professores perceberem que
[as novas tecnologias] são um
auxiliar e não um entrave. Assim
que saio da bolha, da caverna, chego lá fora e vejo que
o mundo real é apelativo, para mim e para os alunos.”
VOLUNTÁRIOS EM TEMPOS DE CRISE
Para a VOST Portugal, responder perante uma situação
de crise não é propriamente novidade – ou não fosse o
acrónimo em inglês para Voluntários Digitais em Situações
de Emergência (VOST). O grupo começou em agosto de
2018, durante o grande incêndio de Monchique, e desde
então tem assumido um papel importante de distribuição
de informação nas redes sociais e disponibilização de ferra-
mentas que ajudam a população a agir e reagir em situações
nas quais o País fica em alerta. Com a chegada da Covid-19,
chegou mais uma missão para a VOST Portugal. “Nunca
tínhamos pensado que esta crise seria uma pandemia, mas
começámos a acompanhar a situação, a nível internacional,
logo em janeiro deste ano, e começámos a preparar-nos
para entrar em ativação”, conta o grupo, em respostas por
e-mail elaboradas por cinco pessoas. Ativação é o termo
que define os momentos em que os voluntários da VOST
Portugal estão focados num único tema. O grupo, que é
constituído por 140 voluntários, tem 40 pessoas “dedi-
cadas 100%” à ativação da Covid-19. A parte mais visível
do trabalho do grupo é a informação partilhada através
das redes sociais Facebook e Twitter – conquistando um
alcance de 1,2 milhões de impressões (vezes que apareceram
nos feeds dos utilizadores) e oito milhões de impressões,
respetivamente. Dos relatórios da Direção-Geral de Saúde
aos alertas sobre notícias falsas, ao destaque dado a projetos
de utilidade pública, à partilha de informações de fontes
oficiais, como a Guarda Nacional
Republicana ou o Centro Nacional
de Cibersegurança, são muitas as
publicações diárias e são muitas
as partilhas para que não falte
informação aos utilizadores nas
redes sociais. Mas a situação da
Covid-19 trouxe um desafio di-
ferente: a longevidade. “Desde o
início que dissemos a todos que
esta ativação ia ser longa, desgas-
tante, e muitas vezes frustrante.
Se os cuidados que temos com
a informação que distribuímos
nas redes são os mesmos – va-
lidar, validar, validar! – houve
uma necessidade de termos al-
gum apoio técnico e estabelecer
novas pontes de contacto com pessoas e entidades com as
quais, até aqui, não tínhamos uma relação, especialmente
ao nível de verificar rumores que surgem quase todos os
dias relacionados com esta pandemia”, explica o grupo.
Através de um canal na plataforma Discord, que funciona
como o quartel-general digital da VOST Portugal, os fun-
dadores do grupo gerem os voluntários que estão disponí-
veis consoante as necessidades e os desafios que lhes vão
chegando às caixas de mensagens. Um dos desafios que a
Covid-19 trouxe foi a criação do site oficial do Governo de
resposta à crise, o Estamos On. A VOST Portugal sublinha
que a ideia do projeto, que surgiu do gabinete de crise para
o digital criado pelo Governo, permitiu ao grupo “usar as
valências técnicas e de comunicação de emergência, numa
resposta conjunta aos desafios que enfrentamos no nosso
País”. E na altura em que está a ler este artigo, um outro
projeto que estava em desenvolvimento pode até já estar
lançado: uma plataforma para que qualquer pessoa saiba
que estabelecimentos estão abertos nesta fase de crise e
quais os horários que estão a praticar.
DAS NEUROCIÊNCIAS AOS VENTILADORES
“Achei que já podia haver alguém com a mesma ideia,
descobrir maneira de fazer uma máquina que é suporte de
vida essencial”. João Nascimento refere-se aos ventiladores,
um bem de primeira necessidade nos hospitais para a luta
contra a Covid-19, e queria encontrar projetos que permi-
tissem, de forma simples e relativamente barata, produzir
um equipamento destes para quando as unidades de saúde
e hospitais ficassem sem os ventiladores tradicionais, como
já aconteceu em Itália. Foi ao Twitter pesquisar e encontrou
dois ingleses a falarem sobre o assunto. Decidiram juntar-
-se e criar uma plataforma que pudesse servir de ponto
de encontro para todos os que tivessem interessadas num
projeto semelhante. No primeiro dia eram nove membros,
no segundo já eram 2500 e no terceiro dia já ultrapassavam
os 4000 membros. Quando entrevistamos João, cerca
de duas semanas após a criação do Project Open Air, o
grupo agregava mais de 12 mil pessoas. João, de 40 anos
e natural de Cascais, é o primeiro a admitir que nada sabe
de ventiladores – estuda neurociências e filosofia. Mas a
vontade comum de ajudar trouxe médicos, engenheiros
- incluindo de equipas da Fórmula 1 –, designers e muitos
S
Gosta de surf, jardinagem e não sabia nada de
ventiladores. É assim que se apresenta João
Nascimento, do Project Open Air. A prova de
conceito já está disponível na plataforma Arxiv.org
O ventilador
do Project Open
Air usa tubos
de policarbonato,
válvulas de
gás industrial,
eletroválvulas
e até um balão
como reservatório
de pressão