/ PORTUGAL FAZ BEM
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académicos para que todos pudessem criar um ventilador
open source de baixo custo. O objetivo foi conseguido. No
dia 2 de abril, a equipa do Project Open Air publicou uma
prova de conceito do ventilador, acessível a todos, uma
espécie de planta e guia de construção. Dois laboratórios
em Portugal produziram unidades para atestar que o con-
ceito funciona e do Project Open Air fazem parte vários
médicos, que foram dando indicações dos mínimos que
o equipamento deveria garantir. A próxima etapa é o de
desenvolvimento de engenharia e protótipo para produção
em larga escala. A prova de conceito tem capacidade para
permitir ajustes na pressão inspiratória (PIP no acrónimo
em inglês) e expiratória (PEEP no acrónimo em inglês),
permite operar com oxigénio puro, está equipado com uma
válvula de segurança para aliviar a pressão, pode ajustar-se
à respiração do paciente a um ritmo de 12 a 25 respirações
por minuto e também podem ser implementados alarmes
de baixa ou alta pressão. “O ventilador que estamos a tra-
balhar é o último recurso, faz o básico dos básicos. Aquilo
que nos hospitais são máquinas complexas, de 25 mil ou
30 mil euros, permitem fazer variadíssimas regulações que
a nossa máquina não permite. É um último recurso, mas
fácil de escalar”, explica João Nascimento. No final, o ven-
tilador do Project Open Air, numa produção de dimensão
considerável, poderá custar cerca de mil dólares, perto de
915 euros à taxa de câmbio no início de abril, e ser cons-
truído na maior parte dos países. “Já estamos em contacto
com os EUA e Itália, com universidades essencialmente.
O contacto passa muito pela via académica, depois para a
indústria e para o terreno.”
ASSIM NASCE UM GIGANTE
No mesmo sábado em que Vítor Bastos avançava para a
criação do grupo de Facebook para ajudar professores e
alunos, noutros pontos do país congeminava-se aquele que
viria a tornar-se no maior e mais mediático movimento de
resposta tecnológica à Covid-19 em Portugal. Num grupo
do qual fazem parte mais de 50 fundadores de startups
portuguesas, fez-se a pergunta: de que forma podemos
ajudar? A discussão deu lugar às ideias, as ideias converte-
ram-se num grupo na plataforma de comunicação Slack e
assim nasceu a Tech4Covid19. Felipe Ávila da Costa, diretor
executivo da startup Infraspeak, foi um dos elementos que
esteve na fundação da plataforma e tornou-se num dos
rostos da iniciativa. No início de abril, já eram mais de 4400
os voluntários, de várias startups e outras empresas, que
trabalhavam sob a bandeira do Tech4Covid19. O projeto em
si funciona quase como uma incubadora de ideias que vão
surgindo em diferentes áreas – desde a recolha de dinheiro
para a compra de material médico (Stop Covid), à criação
de plataformas para alojamento de profissionais de saúde
(Room Against Covid) ou que ajudam no ensino à distância
(Tools4Edu), passando pelas que ajudam a saber o tempo
de espera para a fila do supermercado (Posso Ir), fazem a
identificação de pessoas infetadas pelo novo coronavírus
(Covidografia) e apoiam nas compras online (Quietinho
em Casa). Em duas semanas, a conversa informal trans-
formou-se quase numa megaempresa, responsável por
mais de 40 projetos independentes, alguns já lançados e
outros prontos a entrarem em ação. “Só é possível porque
as pessoas que estão a liderar os projetos são fundadores de
startups portuguesas de topo e têm capacidade de trabalho
e entrega brutais. Projetos que demorariam três meses são
lançados ao fim de cinco dias”, revela o empreendedor.
Se a luta contra a Covid-19 é uma guerra, como muitas
vezes tem sido referido, então isso faz da Tech4Covid19
um dos sistemas base de apoio a quem está na linha da
frente. “Somos uma equipa de facilitadores que permitem
que todas as pessoas que estão na linha da frente têm as
ferramentas para poderem atuar melhor e de forma mais
eficiente”. Questionado sobre durante quanto tempo esta
plataforma estará ativa, a resposta de Felipe Ávila da Costa é
esclarecedora: “Diria que até enquanto for necessária. Seria
ótimo sinal se daqui a um mês o movimento morresse.”
TODOS CONTRA
A COVID-19
Filipe Ávila da Costa revela que o Tech4Covid é apoiado por
tecnológicas como a Amazon e Microsoft, que têm doado
serviços e infraestruturas para os projetos que são lançados
3D MASK PORTUGAL
Mais de 100 voluntários juntaram-se para produzir,
em impressoras 3D, suportes para viseiras. Foram
entregues mais de 3700 unidades a várias unidades de
saúde no País
VIZINHO AMIGO
Uma página na rede social Instagram que tem como
missão identificar jovens que têm disponibilidade para
ajudar idosos. Objetivo é auxiliar em tarefas como ir às
compras, para evitar as deslocações das pessoas que
são consideradas como grupo de risco
AIR4ALL
Cerca de 80 voluntários de diferentes áreas juntaram-
se para criar dois ventiladores open source: um de
sistema pneumático, para hospitais, e outro de sistema
mecânico, para lares e ambulâncias
MOVIMENTO MAKER PORTUGAL
O grupo de Facebook que é um dos maiores pontos
de encontro entre makers portugueses foi dos mais
ativos na produção de suportes e de viseiras completas,
material que foi doado a unidades de saúde
SOS VIZINHO
Mais um projeto focado em comunidades locais
e sobretudo na distribuição de bens de primeira
necessidades a idosos e pessoas com doenças crónicas