Exame Informática (Junho 2020)

(NONE2021) #1
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EDIÇÃO 300

Investigador na área
de nanomateriais
e professor do Departamento
de Engenharia Mecânica.
Participou no registo de três
patentes. Foi eleito presidente
do IST como candidato único.

uma ligação empática, a eficiência será infinitamente mais
rápida. No momento em que encararmos as tecnologias como
substitutos dos professores, tudo isso se perde. Os alunos
perderão professores capazes de os transformar. Perdem-se
referências morais, éticas, humanas... a escola é muito mais
do que ensinar o Teorema de Pitágoras. É também estabelecer
elos... aqui entre nós, os maus professores também servem de
referência, nem que seja pela negativa e por aquilo que não
devemos fazer.
Também deve ser trágico haver alunos que não terminam o
curso, porque há empresas que os aliciam com contratos...
Os alunos do IST são objeto de grande pressão das empresas...
muitos, quando se encontram no quarto ou quinto ano, têm
uma grande pressão para irem para o mercado de trabalho. A
postura dos professores passa sempre por dizer: “não façam
isso”. Porquê? Porque se desvalorizam no mercado de trabalho.
Por outro lado, a existência dessa pressão é uma garantia da
empregabilidade e do reconhecimento da nossa formação. O
indicador que temos são as taxas de abandono nos últimos
anos. E têm vindo a cair significativamente.
Revê-se na atribuição de nomes de mecenas que nem sempre
são conhecidos a salas de universidades?
O financiamento do ensino superior é insuficiente. E é in-
suficiente porque, no caso do Técnico, cobre apenas 70% da
massa salarial. Além de 30% dos salários, o IST tem de garantir
dinheiro para reagentes, água, luz, diferentes laboratórios e
projetos. Como podemos suprir esta deficiência? Através de
projetos de investigação e prestação de serviços. O que nos
falta é capacidade de investimento. Não rejeito a possibilidade
de haver mecenas que financiem o investimento. Se a dotação
do orçamento de Estado cobrisse a totalidade dos salários, já
não precisaria de nada disso. Estamos a estudar maneiras de
ter folga na capacidade de investimento. Quando se diz que
metade do orçamento vem dos projetos e prestação de servi-
ços, e temos a economia fechada durante seis meses, isto tem
impacto na nossa operação.
São necessárias mais encomendas da indústria?
Claro, mas se as empresas não as fazem e estão fechadas... O or-
çamento do IST em tem duas componentes: uma do orçamento
do Estado que é insuficiente para pagar a totalidade dos salários
e outra que vem de projetos e parceiros. As duas componentes
já são escassas. Se quisermos criar um laboratório para testes
serológicos da Covid-19... não temos essa capacidade.
O IST deve estar cotado como uma das maiores fábricas
de ministros do País!
A formação do IST é suficientemente eclética para aceitar
qualquer tipo de desafio! (sorriso) O atual ministro da Ciência,
Tecnologia e Ensino Superior (Manuel Heitor) é um colega, foi
professor no Técnico, e penso que voltará a ser quando deixar de


ser ministro. Temos o atual secretário-geral da ONU (António
Guterres) que foi aluno e professor do Técnico...
Sente disputas políticas nesta antecâmara do poder?
Nunca fui confrontado com nenhuma posição demasiado
ideológica ou colada a este ou aquele partido. Relativamente
à questão de termos muitos ex-alunos e professores que de-
sempenham cargos no Governo, tenho a dizer que esses cargos
têm sido desempenhados politicamente, mas em quase todos
há uma componente técnica forte.
Vai suspender o projeto do Arco do Cego?
O Técnico Innovation Center é um espaço em que as pessoas
podem entrar e conhecer centros de investigação, projetos, o
que os nossos alunos andam a fazer... com eventos rotativos.
O projeto prevê um investimento de 10 milhões a 12 milhões
de euros; temos garantidos cerca de 4,5 milhões e tínhamos
iniciado o planeamento e construção para o arranque do pro-
jeto, que estaria previsto para o início do próximo ano... Ainda
não baixámos os braços. O projeto é para avançar, mas terá de
haver necessariamente algum atraso. Já estamos em maio, e
muito dificilmente poderemos arrancar com a obra no início
do próximo ano.
Vão ser lançados cursos novos? Medicina faria sentido?
Uma vez que está inserido na Universidade de Lisboa, não faria
sentido o IST criar uma alternativa à Faculdade de Medicina.
Mas temos feito de uma revisão quase anual da oferta curri-
cular ao nível do segundo ciclo, com cursos de mestrado que
podem ser encarados como atualizações de conhecimentos
para as áreas de informática, gestão, conservação e restauro,
proteção radiológica. Além da oferta de segundo ciclo, te-
mos a decorrer a iniciativa Técnico+, que contempla ações de
formação para executivos ou para quem pretende formação
ao longo da vida... por exemplo, um jornalista que pretende
saber mais sobre informática, vem aqui e tem uma formação
de quatro semanas... A isto junta-se uma licenciatura para
alunos estrangeiros que pretendam estudar em Portugal. É
uma licenciatura lecionada em inglês para alunos, que depois
poderão escolher um mestrado aqui ou noutro lugar.
Essa iniciativa não prevê a construção de nenhum edifício?
Para já, não temos planos... estamos apenas a arrancar com o
modelo pedagógico da licenciatura. A ideia era arrancar com
um número de vagas limitado... 20, 30, e depois veremos qual
a resposta.
Ainda dá aulas?
Dei só até dezembro. Há 29 anos que dou aulas. E agora sinto
falta, mas é impossível ter atividade letiva tendo em conta as
funções que exerço. Nos próximos 3,5 anos não irei dar aulas.
Terei de me atualizar. Continuo a reunir-me com os meus
alunos de doutoramento, mas é impossível ser presidente do
Técnico e dar oito ou dez aulas por semana.

ROGÉRIO COLAÇO

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