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A IRONHACK TEM CURSOS DE DESENVOLVIMENTO
WEB, DESIGN DE INTERFACES E EXPERIÊNCIA
DE UTILIZADOR (UI/UX), E DE ANALÍTICA DE DADOS.
ÁLVARO GONZÁLEZ É O LÍDER DA EMPRESA
EM PORTUGAL E ESPERA REQUALIFICAR
250 PESSOAS EM 2020
uem disse que é preciso estar desempre-
gado para querer mudar de vida? Emanuel
Sousa é licenciado em Gestão, mestre em
Finanças e, em 2017, já levava sete anos
a trabalhar na área económica. O que no
papel parece o percurso perfeito, escon-
dia um grande problema de base: “Tinha
aptidão, mas não o gosto para o fazer todos os dias”. Nesse
ano, como resolução pessoal, decidiu que queria aprender a
programar. Como trabalhava regularmente com Excel e com
macros – conjunto de comandos para automatizar ações na
folha de cálculo –, descobriu que a programação, no geral,
partilhava muitos princípios com o que já fazia. Durante algum
tempo levantou-se todos os dias mais cedo para estudar uma
hora de programação, sozinho, antes de ir para o trabalho.
Mas sentia-se perdido: “Faltava alguém que estivesse ao meu
lado para tirar dúvidas”, conta. Na altura, o portuense – agora
com 30 anos – ainda não tinha decidido mudar de carreira,
queria simplesmente ver se gostava de programação. Se a
resposta fosse afirmativa, então ia começar uma caminhada
nesse sentido, conta à Exame Informática. Foi também no ano
de 2017 que aconteceu a primeira edição do Switch, um pro-
grama de requalificação profissional tecnológica organizado
pela associação empresarial Porto Tech Hub em parceria com
o Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP). Os astros
alinharam-se para Emanuel Sousa: “[O programa] Tinha uma
coisa que queria muito, ter o estágio no fim do ano letivo. A
entrada no mercado é o mais difícil”. Na semana seguinte após
ter sido aceite no Switch, demitiu-se. Seguiram-se 32 semanas
de curso intensivo, teórico e prático, e um estágio de nove
meses na tecnológica Fabamaq. Depois disso já trabalhou na
tecnológica Blip e está atualmente no ‘unicórnio’ português
de software de centros de atendimento Talkdesk. “Trabalho
com Javascript, estou mais focado em desenvolvimento front
end [aquilo que os utilizadores vêm]. E o Javascript já dá pano
para mangas”, diz em jeito de brincadeira.
A entrada meteórica de um profissional da área económica
no mundo da tecnologia está longe de ser uma história singu-
lar, pois dados cedidos à Exame Informática, pelas empresas e
organizações que têm iniciativas de requalificação profissional
de base tecnológica, mostram uma taxa de empregabilidade
média de quase 90%: o Switch do Porto Tech Hub destaca-se
com uma taxa de empregabilidade de 100%, a Academia de
Código garante 95%, a Ironhack e a Le Wagon dizem que 90%
dos seus alunos têm emprego num período de três e quatro me-
ses, respetivamente, e a Wild Code School tem atualmente uma
taxa de empregabilidade de 70%. Os valores não são difíceis
de perceber: o grande número de centros de desenvolvimento
tecnológico que Portugal acolheu nos últimos quatro anos e
o crescimento das empresas, fruto da maior importância das
tecnologias para todas as empresas, levou a uma escassez de
profissionais de tecnologia.
MAIS MOTIVADOS
A Critical Software é uma das empresas que tem recorrido a
pessoas requalificadas para conseguir responder à falta de profis-
sionais especializados. No total, a tecnológica nascida em Coim-
bra e que tem como clientes as gigantes Airbus, BMW, Siemens
ou as agências espaciais europeia (ESA) e americana (NASA),
emprega 936 pessoas, das quais cerca de 80 são profissionais
que fizeram uma formação de requalificação – cerca de 8% da
força de trabalho daquela que é uma das maiores tecnológicas
em Portugal. Nuno Vaz Santos, diretor de recursos humanos
da Critical Software, admite que os profissionais requalificados
não têm as mesmas bases de um engenheiro informático que
é licenciado, mas vê outras características nesta nova ‘onda’
de trabalhadores. “Na componente técnica, são pessoas que
são especializadas numa determinada tecnologia, seja Java ou
embedded systems. Falta-lhes alguma competência teórica
de engenharia de software, de arquiteturas, de abordagens à
programação, mas o que essas pessoas trazem é a experiência
por já terem passado por situações que não lhes agradaram tanto
EMANUEL SOUSA EXPLICA QUE PARA APRENDER A
PROGRAMAR É PRECISO TER DISCIPLINA, ALGUMA
PACIÊNCIA E A CAPACIDADE DE DIVIDIR UM
PROBLEMA GRANDE EM PARTES MAIS PEQUENAS.
“A ATENÇÃO AO DETALHE TAMBÉM É IMPORTANTE”