Exame Informática (Junho 2020)

(NONE2021) #1

A


/ PORTUGAL FAZ BEM

70

EDIÇÃO


300


COMUNICAÇÕES


DE BAIXA ALTITUDE


O projeto STRX tem por objetivo criar recetores baratos e portáteis
para os futuros operadores de telecomunicações que garantem a cobertura
do mundo inteiro com satélites de baixa órbita. O projeto arrancou
em laboratórios académicos, mas pretende criar um produto comercial
Tex t o Hugo Séneca Fotos D.R.

voz e as expressões
do rosto de Ricardo
Correia não batem
certo. No ecrã, os
movimentos da
boca surgem sem-
pre em atraso face
ao som. Com a rede saturada por mais
de metade do país que se encontra em
confinamento social, o excesso de latên-
cia voltou a fazer das suas. “No futuro,
com os satélites de órbitas baixas (LEO),
este atraso causado pela latência deixa-
rá de acontecer”, refere o Responsável
pela Área de Investigação da Sinuta.
O desfasamento entre som e imagem
surgiu apenas nos momentos finais da
entrevista, mas serve de mote para dar a
conhecer tudo o que os responsáveis pelo
projeto STRX pretendem fazer nos próxi-
mos dois anos: desenvolver um agregado
de antenas direcionais milimétricas que
qualquer consumidor poderá comprar
para ter acesso às novas constelações
de satélites globais que têm vindo a ser
lançadas por marcas como Starlink,
OneWeb, Amazon, Telsat ou Leosat.
O primeiro protótipo foi demonstrado
com apenas 16 antenas numa feira inter-
nacional. Dentro de dois anos, o projeto
que juntou especialistas do Instituto de
Telecomunicações (IT), INESC TEC e Si-
nuta já terá uma solução pronta a entrar
no circuito comercial: “Quando chegar
ao mercado, este equipamento já poderá
ter mais de um milhar de unidades que

funcionam como recetores ou emissores”,
explica João Matos, investigador do IT.
Quem se habituou a ver uma antena de
TV como uma parabólica pode ser levado
a crer que um produto com um agregado
de mais de mil transceivers (emissores
que também são recetores) terá sempre
dificuldade em impor-se comercialmente


  • mas a evolução tecnológica permite tirar
    as dúvidas: “queremos garantir a minia-
    turização dos equipamentos”, explica
    Ricardo Correia.
    Já existem no mercado agregados de
    antenas que permitem comunicar dire-
    tamente com constelações de satélites

  • mas são produtos que, além de não
    serem portáteis, têm ficado confinados


aos segmentos dos iates e da aviação co-
mercial. O projeto STRX pretende fazer
a diferença com um equipamento mais
barato e portátil, "que garante o con-
trolo dos feixes hertzianos”, acrescenta
Ricardo Correia.
“Todas as empresas desta área falam
de equipamentos de comunicação com
satélites LEO com um preço de 100 dó-
lares (cerca de 92 euros). Já alguém fez
estes equipamentos? Não, ninguém”,
acrescenta o responsável da Sinuta.

MINI-ANTENAS
Para alcançarem a tão desejada minia-
turização que garante portabilidade
e baixos custos, os laboratórios do IT
contam desenvolver chips que, possi-
velmente, terão de integrar as próprias
antenas. O projeto tenta tirar partido não
só das características das frequências
escolhidas, como do uso de múltiplas
antenas milimétricas, que se direcionam,
de forma automática, para comunicar
com satélites.
“O facto de termos um conjunto de
antenas que são recetoras e outro con-
junto de antenas que são emissoras
permite-nos criar um agregado em que
controlamos cada uma dessas antenas,
para conseguirmos comunicar com o
satélite, através de técnicas de beam for-
ming (formação de feixes hertzianos)”,
explica João Matos.
Os investigadores envolvidos no STRX
também não enjeitam outras técnicas
Ricardo Correia,
da Sinuta, mostra
dois componentes do
protótipo de recetor
de comunicações
por satélite
criado durante
o projeto STRX
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