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A estação meteorológica
e sensores de vento
permitem ao sistema
decidir sobre qual a melhor
fonte de energia a usar.
O preço das baterias
ainda tornam a ideia de
armazenamento de energia
num componente difícil de
aplicar em ambiente real
PROJETO
INTERNACIONAL
A Universidade de Évora é um
de 11 parceiros, e o único português,
que vai criar condições para uma
maior adoção da irrigação
fotovoltaica. Além da UÉ, vão
participar ainda entidades de
Espanha, França, Itália, Marrocos e
Roménia. O projeto Solaqua é
apoiado por fundos europeus do
programa Horizonte 2020.
Estima-se que 15% das emissões
totais de dióxido de carbono na
União Europeia estejam relacionados
com a atividade agrícola.
UMA CAMADA
DE INTELIGÊNCIA
Além dos 560 painéis desta
‘quinta’ solar, existe um painel
extra que funciona como módulo
de referência – é este que faz a
recolha da informação sobre a
exposição solar a cada momento,
da temperatura das células e
ajuda a calcular a quantidade de
energia disponível. Os painéis
estão instalados no eixo
este-oeste, para otimizar os
meses de maior exposição solar
na primavera e verão (apanham
mais luz ao início da manhã e
ao fim da tarde). Está ainda
instalado um desmultiplicador
que faz os painéis mudarem de
inclinação em função da posição
do Sol. A camada de inteligência
da infraestrutura abrange ainda
uma estação meteorológica e
sensores de vento – se houver
uma tempestade, os painéis
assumem automaticamente uma
inclinação de ‘defesa’ e menos
propensa a danos provocados
pelo vento. Como tudo funciona
de forma automática, a
manutenção é praticamente
inexistente – além disso, o
orvalho da manhã ‘encarrega-
se’ de limpar os painéis solares
das poeiras. O impacto visual
também é mínimo, já que os
painéis estão ao mesmo nível
das oliveiras.
menores gastos energéticos”, concordou
Vasco Cortes Martins, diretor da Elaia, a
unidade de produção agrícola do grupo
Sovena, durante a nossa visita. “A agri-
cultura moderna ganha maior eficiência
e sustentabilidade”, acrescentou.
ELEVAR A POTÊNCIA
Agora que está provado que a tecnologia
funciona em ambiente real – há mais
cinco instalações-piloto noutros países,
das quais uma em Espanha que produz
340 kW –, chegou a hora de dar o salto.
É aqui que entra o projeto Solaqua, do
qual a Universidade de Évora também
faz parte, em conjunto com mais 11
entidades de cinco países. O objetivo é
massificar a tecnologia criada durante o
projeto MASLOWATEN por forma a que
algo que é praticamente inexistente – a
irrigação fotovoltaica representa cerca
de 1% do total na agricultura europeia
–, comece a ser utilizado por produtores
agrícolas em países sobretudo do sul da
Europa e norte de África. “O merca-
do de irrigação fotovoltaica está num
ponto crítico”, considera Luís Fialho.
“Vamos desenvolver ferramentas e for-
necer especificações, juntamente com
boas práticas, para instalar um sistema
destes”, acrescentou. Uma destas ferra-
mentas será um software de simulação,
que permitirá a cada quinta ou herdade
saber de quantos painéis necessita para
tornar parte ou a totalidade do sistema
de rega alimentado pela energia do Sol.
Ou seja, o Solaqua quer transferir todo o
conhecimento técnico para as empresas
- sobretudo pequenas e médias (PME)
dos setores fotovoltaico e da irragação.
A partir de outubro e com um prazo de
dois anos definido, o objetivo é impul-
sionar a criação de várias instalações de
irrigação fotovoltaica que produzam, no
seu conjunto, 100 megawatts (MW) de
potência energética. Apesar de o cenário
ideal ser sempre ter zero emissões com
o processo de rega, estão disponíveis
vertentes híbridas (fotovoltaico-diesel
ou fotovoltaico-rede elétrica) para com-
pensar as insuficiências da energia solar
(como um dia nublado, por exemplo).
Os investigadores estão também a
pensar num novo conceito de financia-
mento. Os solar bonds são obrigações que
as próprias quintas vão emitir para atrair
investidores. Todo este ecossistema que
se pretende criar – de tecnologia, regras
e capital –, valoriza Portugal e outros
países como mercados fortes nas energias
renováveis e da produção sustentável. “O
material técnico pode vir de fora, mas o
conhecimento de engenharia tem de ser
local”, defende Luís Fialho. Além disso,
o investigador não tem dúvidas sobre o
futuro da produção agrícola: “Esta li-
gação entre a água e a energia solar é
inevitável”. Rui da Rocha Ferreira
marcas como o azeite Oliveira da Serra
e os óleos alimentares Fula, entre outros
produtos – é garantida pelo sistema de
irrigação fotovoltaica. Os restantes 20%
ainda são feitos a diesel, mas a mudança
já fez a fatura com os custos energéticos
cair 34%. O investigador da CER-UÉ
aponta para que, nos moldes atuais, o
investimento possa ser recuperado em
quatro a cinco anos, sendo que o tempo
de vida útil destas instalações é de 25 a
30 anos. “Este sistema permite recu-
perar competitividade, por causa dos
Fotos
Marcos Borga