(20201100-PT) Exame Informática 305

(NONE2021) #1
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SEGUNDA VIDA PARA O LEITE DE VACA


Todos os anos, na Europa, há 29
milhões de toneladas de leite que
são deitadas fora. Ao esgoto vai
parar material nobre que, mesmo
estragado e impróprio para consumo
humano, pode ser aproveitado na
produção de fibras, por exemplo. É
o caso da caseína, correspondente
a 80% da proteína do leite, que tem
características interessantes para a
área da saúde ou do têxtil.
A transformação da caseína
em fibra já é um processo bem
conhecido, servindo para fazer
linhas de sutura, pelas boas
propriedades de absorção. Um
projeto da Universidade do Minho,
através da sua plataforma de I&D,
Fibrenamics, irá agora estender a
aplicação da caseína a outras áreas
da saúde e da cosmética, tirando
partido daquela que é a principal
produção da região (em 2019
foram produzidas 126 toneladas
de leite). “Em média, o desperdício
corresponde a 20% da produção”,
observa Fernando Cunha, diretor
executivo da Fibrenamics. Com um
financiamento de 300 mil euros
por parte do Açores 2020, uma
duração prevista de três anos e
uma equipa de 10 investigadores,
o projeto designado por Milkfibre
irá tirar partido dos desperdícios
que, inevitavelmente, resultam do


FIBRENAMICS
PROJETO: MILKFIBRE
FINALIDADE: PRODUZIR FIBRAS
A PARTIR DE DESPERDÍCIOS DE LEITE
LOCAL: SÃO MIGUEL, AÇORES

excesso de produção de leite de
vaca e das sobras dos processos
de transformação da indústria de
laticínios.
Na primeira fase, será aperfeiçoada
a técnica de separação da proteína,
a segunda fase será dedicada à
produção de fibras, com estudo
detalhado do material a nível macro
e a nível nano. Na terceira fase serão
acrescentadas novas propriedades,
como uma ação antibacteriana. “É
uma fibra biocompatível, não tóxica
e biodegradável”, elenca Fernando
Cunha. “Pode ser usado em
pensos, compressas, em produtos
com efeito anti-inflmatório, para
hidratantes ou roupa.” Também
pode ter utilidade como veículo de
transporte de fármacos. “Existe
um potencial enorme ainda por
descobrir nestes materiais que
têm um papel tão marcante para
a economia da região. Este é um
novo caminho de valorização da
fileira do leite, que contribui para
uma utilização mais sustentável
dos subprodutos e que pode trazer
mais valor ao setor, contribuindo
para a chamada economia circular”,
resume João Carlos Nunes, Diretor
Científico do INOVA, Instituto de
Inovação Tecnológica dos Açores,
parceiro do projeto Milkfibre.
Em cinco anos de presença

no arquipélago, a Fibrenamics
tem-se concentrado naquela
que é uma tendência mundial de
desenvolvimento de materiais
biodegradáveis e endógenos –
que fazem parte da região e têm
potencial para serem utilizados.
Outros exemplos são a extração
da fibra da conteira, uma planta
invasora que pinta a paisagem de
amarelo, a utilização dos resíduos
do ananás para a construção de
material urbano e os de basalto,
aproveitados em pedra composta de
aplicação em arquitetura.

FERNANDO CUNHA
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