58ALERTA ENGASGAMENTO
Daniela Domingues e Romain
Ligneul são investigadores
na Fundação Champalimaud,
trabalham em ciência fundamental
na área das neurociências e a dada
altura sentiram necessidade de
aplicar o conhecimento à clínica e
presenciar o impacto imediato do
seu trabalho. Desta vontade nasceu
o Neuroheadset: um dispositivo que
deteta alterações fisiológicas em
doentes com Parkinson, quando
estas ainda não são notadas pelo
paciente nem pelo médico.
Durante o doutoramento, Daniela
colaborou em estudos de novos
medicamentos para a Doença de
Parkinson, sendo financiada por
uma associação de doentes. A
experiência sensibilizou-a para as
necessidades e as dificuldades que
atingem esta população, como os
distúrbios na voz e o engasgamento- uma das principais causas de
morte evitáveis em pacientes com
problemas do movimento. “À medida
que investigámos, fomos verificando
que há outras doenças, além do
Parkinson, com esta evolução”,
observa Daniela Domingues.
FUNDAÇÃO
CHAMPALIMAUD
PROJETO: NEUROHEADSEAT
FINALIDADE: MONITORIZAÇÃO
DE SINAIS EM DOENÇA DE PARKINSON,
PARA PREVENÇÃO DE ENGASGAMENTOS
LOCAL: LISBOAO dispositivo, que os cientistas
desenharam para ser discreto e ter o
aspeto de um acessório tecnológico,
deve ser colocado por cima da
orelha do paciente, monitorizando-o
ao longo do dia. Do Neuroheadset
fazem parte vários equipamentos,
como um gravador para captar os
sons da garganta, da deglutição e a
voz; um acelerómetro que deteta o
movimento da cabeça e monitoriza
a pulsação. A interpretação destes
parâmetros permite antecipar
a degradação da capacidade de
deglutição e o risco aumentado
de engasgamento e de pneumonia
por aspiração (que acontece
quando pedaços de comida vão
parar aos pulmões). Também
pode ajudar o médico a avaliar
melhor o impacto da medicação,
podendo orientar o tratamento.
“Conseguimos demonstrar que o
dispositivo distingue fala, tosse e
deglutição e que nos aproximamos
dos resultados obtidos pelo
eletromiograma [mede a capacidade
de transmissão de impulsos
elétricos pelos nervos], o exame que
é usado atualmente para estimar osproblemas de deglutição”, avança
Romain Ligneul.
Com este projeto, os dois cientistas
foram distinguidos pelo programa
de inovação em neurociências,
promovido em Portugal pela
farmacêutica Roche, Building
Tomorrow Together, o que poderá
ajudar a passar à fase seguinte,
a utilização do dispositivo em
pacientes, através de uma parceria
com uma unidade de saúde.Foto
Marcos Borga