(20201100-PT) Exame Informática 305

(NONE2021) #1
57

Foi preciso muita paciência e dedicação para
encontrar o ‘alimento’ que faz os linfócitos T
gama-delta crescer e multiplicar, sem perder
qualidades. Estas células do sistema de defesa,
estudadas por uma equipa de cientistas do
Instituto de Medicina Molecular (IMM), em Lisboa,
podem ser um bom aliado no combate ao cancro,
ao emitirem sinais que levam à eliminação do tumor
pelo próprio organismo. A equipa coordenada
por Bruno Silva-Santos está concentrada num
sub-tipo destas células, as DOT (de Delta One T),
que mostraram já ser eficazes no tratamento de
cancros do sangue, numa estratégia conhecida
como imunoterapia – em que o objetivo é potenciar
a capacidade de combater doenças do sistema
imunitário. Depois de a eficácia das DOT ter sido
anunciado em importantes publicações científicas,
nasceu a startup Lymphact, que há dois anos
acabou por estabelecer uma parceria com uma
empresa de biotecnologia inglesa, a Gamma
Delta Therapeutics, que por sua vez tem uma
participação da gigante farmacêutica japonesa
Takeda. Além de terem como alvo as células
cancerígenas, as DOT também atuam durante
infeções virais e ainda em células resistentes à
quimioterapia, que estão na origem das recidivas.
O nosso organismo é capaz de as produzir, mas
quando a doença já está instalada é necessário
aumentar a eficácia e a quantidade de células DOT.
Depois de manipuladas em laboratório, as DOT
tornam-se mais certeiras. Podem ser extraídas
do próprio paciente ou vir de um dador. Tudo isto
com efeitos secundários muito reduzidos. Em
meados do próximo ano deverá iniciar-se o ensaio
clínico em pacientes com leucemias mielóides,
em quatro grandes centros nos EUA, sendo que,
avança Bruno Silva-Santos, “os resultados em
termos da validação do processo de produção das
células DOT estão a ser muito bons”. Entretanto,
continua no IMM a investigação em torno destas
células poderosas, com a equipa agora focada em
compreender melhor o mecanismo de ação das DOT
e em estudar o seu potencial em cancros sólidos.


BALA MÁGICA O GEL REPARADOR


Mesmo quem não é adepto de futebol sabe que o
pior pesadelo de profissionais e amadores é uma
rotura de ligamentos, o famoso joelho do futebolista.
É uma lesão que normalmente dita o fim da carreira,
ainda que tratada com o melhor que há disponível.
Evitar estes finais infelizes e precipitados pode
passar pela injeção de um hidrogel desenvolvido
pela StemMatters, spin-off da Universidade do
Minho, que já passou com distinção na fase de
ensaios pré-clínicos, com testes feitos em diferentes
espécies animais, como coelhos e ovelhas. Injetado
na zona lesionada, o gel promove a regeneração,
com formação de nova cartilagem. “Temos um
produto biomimético, semelhante ao que acontece
na natureza, adesivo e que pode ser implantado no
organismo, já que não gera resposta inflamatória”,
elenca Rui Sousa, um dos fundadores da empresa.
“Verificámos que há nova cartilagem hialina ao longo
de toda a zona do defeito”, sublinha. O produto,
que está a ser desenvolvido em colaboração com
uma clínica especializada em medicina desportiva,
também pode servir de veículo de transporte de
outros materiais que eventualmente aceleram a
recuperação. A injeção do gel ocorre por um processo
simples, através de uns furinhos, numa técnica
designada artroscopia, e o produto permanece na
zona a tratar por pelo menos um ano, sendo a sua
aplicação combinada com o tratamento habitual
nestas lesões, a microfratura. Para alimentar este
trabalho de investigação e desenvolvimento, a
Stemmatters assume-se também como um prestador
de serviços de alta qualidade. “O gasto é certo, o
proveito é incerto”, costuma dizer Rui Sousa à sua
equipa: 16 pessoas, espalhadas num espaço de 800
m2, com uma sala limpa de 300 metros quadrados.
“A única na região norte do País”, sublinha. Fabrica
medicamentos experimentais, para as fases iniciais
de desenvolvimento, quando ainda há muitas
incógnitas e a clientela, normalmente PMEs,
não está disponível para investir neste tipo de
instalações. Também faz processamento de
derivados de sangue – “na Europa existem dezenas
de empresas a precisar destes produtos”.

LYMPHACT
PROJETO: DOT
FINALIDADE: TRATAR O CANCRO COM CÉLULAS DO SISTEMA IMUNITÁRIO
LOCAL: LISBOA, IMM

STEMMATTERS
PROJETO: HIDROGEL
FINALIDADE: GEL PARA REPARAR ROTURAS DE LIGAMENTOS
LOCAL: UNIVERSIDADE DO MINHO

BRUNO SILVA-SANTOS RUI SOUSA
Free download pdf