REPORTAGEM
2,2 MILHÕES
PARA
REGRESSAR
A CASA
Graças ao financiamentodo Conselho Europeu deInvestigação, que atribuiu 2,milhões de euros ao projetoGreen – da sigla em inglês paraGerar Energia a partir de AlgasEletroativas –, Paulo Rochapoderá ‘regressar a casa’.Terminado este semestre deaulas na Universidade de Bath,Reino Unido, onde está háquatro anos, irá instalar-se naUniversidade de Coimbra, noCentro de Ecologia Funcional,para começar um laboratóriode Bioenergia e Bioeletrónicaque espera venha a ser dereferência a nível mundial.“Sinto muito orgulho por poderdesenvolver este projeto emPortugal”, confessa.ENERGIA
de doenças como o cancro do cére-bro e a epilepsia [ver caixa]. Mas ogrande projeto do momento é aqueleque acabou de receber um finan-ciamento de 2,2 milhões de eurospara desenvolver energia a partirda comunicação entre algas, seres“excecionais”, entusiasma-se.O GRITO DAS ALGASIsto porque, descobriu-se recente-mente, existem várias espécies dealgas unicelulares que são capazes decomunicar entre si. Numa linguagemque varia de acordo com a espéciee também com a necessidade de seestabelecer esta comunicação. Nor-malmente acontecimentos geradoresde stresse, como sejam as altera-ções nas condições da água, faltade alimento, algo que comprometaa sobrevivência da espécie. Nestascondições, a ‘conversa’ aumenta deintensidade a ponto de poder serconvertida em energia elétrica. “Écomo se estivessem a gritar”, com-para.Paulo Rocha especializou-se nodesenvolvimento de sensores quedetetam respostas elétricas em cé-lulas e no estudo do mecanismo decomunicação entre estas. Interes-sa-lhe, em particular, encontraruma forma de traduzir a linguagemdas células numa linguagem quepodemos compreender, em sinaiselétricos. A partir destas observa-ções, surgiu a ideia de aproveitar estaenergia para a produção de eletrici-dade, numa solução completamenteinovadora e 100% verde. É que asalgas além de produzirem eletricida-de também capturam carbono parafazer fotossíntese, com um contri-buto a nível mundial “superior aosdas árvores”, sublinha Paulo Rocha.Até agora não havia forma de me-dir esta interação. “Fizemo-lo pelaprimeira, num trabalho que estápublicado num artigo científico”,que mostrava a existência desta co-municação, quantificando-a.Nas primeiras tentativas que feztambém não foi bem-sucedido. Atéter descoberto que quando se colocauma população muito densa, de al-guns milhares de algas, num mesmosensor é possível detetar um sinal.Quanto maior a rede, maior a inten-sidade. “Vimos um sinal fantástico,sinal alternado, quase periódico”,entusiasma-se. “Embora se descon-fiasse que tinham de comunicar parafazerem escolhas, a demonstração”,conta. Para conseguirem detetar es-tes sinais foi preciso construir jaulasde metal, onde foram colocadas asDepois de ter estudadoengenharia de sistemas,Paulo Rocha decidiu aplicaros conhecimentos deeletrónica ao estudo deorganismos vivos