Clipping Banco Central (2021-02-26)

(Antfer) #1

BERNARDO MELLO FRANCO - Tragédia na tragédia


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Em meados de dezembro, Jair Bolsonaro disse que o
Brasil vivia "um finalzinho de pandemia". Os números
indicavam outra coisa, mas o presidente insistia em
subestimar a Covid-19. Dois meses e meio depois, a
crise sanitária atinge seu pior momento. Ontem o país
registrou 1.582 mortes em 24 horas, um recorde desde
a chegada do vírus.


Em um ano, já morreram mais de 250 mil brasileiros.
Agora, a nova explosão de casos se soma à escassez
de vacinas. O país amarga uma tragédia dentro da
tragédia: o desgoverno do Capitão Corona aumenta o
poder de destruição da doença.


Bolsonaro conspirou abertamente contra a saúde
pública. Estimulou aglomerações, fez campanha contra
o uso de máscaras, travou a negociação de vacinas e
ejetou dois médicos do ministério. Entregou a pasta a
um paraquedista trapalhão, escolhido por não contestar
as ordens do chefe.


Em janeiro, o general Eduardo Pazuello deixou faltar
oxigênio em Manaus. Ele havia sido avisado com dias
de antecedência, mas não se mexeu para evitar o


colapso nos hospitais. Nesta quarta, o ministério
militarizado admitiu outro erro grotesco: enviou para o
Amapá vacinas destinadas ao Amazonas.

A pane na imunização é mais um reflexo do
desgoverno. O Brasil registra 10 % das mortes pela
Covid-19 em todo o mundo, mas aplicou apenas 3% das
vacinas. Ontem o Rio retomou a vacinação de idosos,
que havia sido suspensa por falta de doses. No sábado,
terá que interrompera campanha pela segunda vez.

"Não sei onde vamos parar. Se o Brasil mantiver a
vacinação a conta-gotas, o número de mortos pode
ultrapassar os dois mil por dia. O país corre o risco de
virar uma grande Manaus", alerta o ex-ministro Luiz
Henrique Mandetta.

Demitido por Bolsonaro no início da pandemia, ele
projeta um cenário de "desastre anunciado" nas
próximas semanas: "O sistema de saúde está se
despedaçando. Quem está no comando sabe o que é
coturno, mas não sabe o que é seringa ou agulha. E os
técnicos que restaram no ministério estão morrendo de
medo".

"No meio da crise, o Paulo Guedes ainda quer aprovar
o fim da vinculação de recursos para a saúde. Se isso
passar, será o tiro de misericórdia no SUS", afirma
Mandetta.

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas, Banco Central - Perfil 1 - Paulo
Guedes
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