Clipping Banco Central (2021-02-27)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Especial
sábado, 27 de fevereiro de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Bolsa de Valores

Comprado o Legislativo, cooptadas e neutralizadas as
Forças Armadas mediante cargos, subsídios,
promessas, leite condensado e claque em formaturas
de cadetes, pergunto: quais instituições ainda
funcionam normalmente nestas bandas?


Por encarnar e afiançar a "ultima ratio" de qualquer país
que as possua, as Forças Armadas (sim, mais de dez
nações sobrevivem sem o seu concurso) deveriam
preservar-se de aventuras como foram os golpes de que
participaram desde a Proclamação da República. O que
pretendia impedir a posse de Juscelino Kubitschek, em
1955, foi só uma (ou a) exceção à regra justamente
porque um oficial do Exército, o marechal Henrique
Teixeira Lott, e sua excalibur da legalidade melaram a
tempo a conjura udenista.


Quando vejo, leio ou ouço alguém lamentar a escassez
ou mesmo ausência, hoje, de políticos e outros figurões
civis de alto nível, sempre me vem à lembrança a figura
do marechal. Com ele, nenhum golpista tirava farofa.
Que reação lhe provocaria um confesso autogolpista
como Bolsonaro? Que atitude teria face à fascistoide
ameaça do general Villas Boas ao STF, em abril de
2018?


O ator, humorista e cronista Gregório Duvivier
desenvolveu uma tese que, em outras cabeças,
inclusive na minha, já andou caraminholando. Ao
contrário do que se pensa, o presidente não protege e
prestigia além da conta os seus ex-colegas de farda,
notadamente os da arma em que fez carreira, o
Exército, mas, na verdade, os rebai- xa e desmoraliza.
Ao lhes dar emprego e funções que exigem especial
capacitação, expõe-lhes a incompetência e engorda as
desconfianças de que suas nomeações são menos
frutos de uma ineludível promiscuidade corporativista do
que das limitações sociais impostas pela vida em
caserna. Azar nosso se o capitão só se dá com milicos.


Para Duvivier, Bolsonaro está se vingando do coronel
que o humilhou, reprovando-o por sua "falta de lógica,
racionalidade e equilíbrio", de outro oficial que condenou
sua "excessiva ambição em realizar-se financeiramente"
e, acrescento eu, do general Ernesto Geisel, que o


considerava "um mau militar".

Não sei se concordo com a hipótese de que nem
décadas de propaganda antimilitar da esquerda
causaram mais estrago na imagem do Exército do que a
sanha empregatícia do presidente, mas é possível que
sim. Já a suspeita de que só agora, com meio século de
atraso, o capitão cumpre uma missão que lhe teria sido
delegada pelo capitão Carlos Lamarca, não é, como
toda blague, para ser levada a sério. É para rir.

Ria, enquanto o golpe não vem.

Não teríamos mais do que 8 mil óbitos até o fim da
pandemia, mas atingimos a marca de 250 mil

Assuntos e Palavras-Chave: Banco Central - Perfil 1 -
Bolsa de Valores, Cenário Político-Econômico -
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