National Geographic - Portugal - Edição 240 (2021-03)

(Antfer) #1

a disponibilidade de oxigénio e a abundância de
nutrientes permitem que estas águas fervilhem de
fitoplâncton e zooplâncton, as presas predilectas
de diversos peixes pelágicos. Da superfície até cem
metros de profundidade, vastos cardumes de sardi-
nhas dominam a plataforma continental, ultrapas-
sando por vezes o incrível peso de dez toneladas e o
equivalente à área de um campo de futebol.


Se abundância significa realeza, a sardinha é indis-
cutivelmente a rainha do mar português. Uma sobe-
rana magnetizante de civilizações que habitaram
este território desde os tempos dos fenícios.
De acordo com o especialista em História das Pescas
e Economia do Mar da Universidade de Coimbra,
Álvaro Garrido, existem registos ancestrais arqueo-
lógicos em Portugal que evocam métodos milenares
de captura e conserva de sardinha, especialmente do


período romano. Os tanques de salga e de prensa de
sardinha em Tróia são alguns dos melhores exemplos.
Estas técnicas de conservação ligadas umbilicalmente
à existência de sal permitiram o aumento da disponi-
bilidade de um recurso natural valioso que, ainda hoje,
se encontra muito presente na cultura gastronómica
e popular dos actuais descendentes dessas culturas.
“A abundância deste peixe, a extensa linha de
costa e a tradicional afinidade para as artes de pesca
criaram em Portugal condições favoráveis ao con-
sumo generalizado deste alimento”, afirma Álvaro
Garrido, em frente do seu computador, durante a
nossa conversa digital. Prova disso é a sua presença
assídua na mesa dos portugueses. Uma tradição que
se estende à literatura, música, pintura ou mesmo
artes decorativas, fazendo da sardinha uma peça
valiosa do património cultural português.

SARDINHAS 91
Free download pdf