'Episódio Petrobrás deu um susto grande nos investidores'
Banco Central do BrasilO Estado de S. Paulo/Nacional - Economia
sábado, 6 de março de 2021
Banco Central - Perfil 3 - Reforma TributáriaClique aqui para abrir a imagemAutor: Luciana Dyniewicz
Pessimista em relação ao avanço das reformas
econômicas, o economista-chefe do Itaú Unibanco,
Mario Mesquita, diz também estar preocupado com as
incertezas políticas, que ameaçam o crescimento do
PIB. "Se persistir esse ambiente de solavancos na
gestão de empresas importantes, vai ser difícil a gente
manter uma trajetória de crescimento do investimento. A
gente, por ora, espera um crescimento em torno de 2%
em 2022, mas ele pressupõe uma economia com um
grau menor de incerteza do que a gente tem agora."
Mesquita acrescenta que a interferência do presidente
Jair Bolsonaro na Petrobrás foi um "susto grande" para
o investidor: "Quão relevante esse episódio vai se
mostrar como divisor de águas, a história vai dizer. Mas
os dados são incontroversos. Trincou um pouco o
cristal".
Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista do
economista ao Estadão.
O Itaú estava entre os menos pessimistas em 2020 nas
projeções para o PIB, com queda sempre na casa dos
4%. Agora, também, projetando uma alta de 4%. A
gravidade da pandemia não está se acentuando muito
rapidamente para manter esse otimismo?Nosso indicador de atividade, que ajudou bastante a
acertarmos o PIB do ano passado, não sentiu ainda
(alteração no ritmo da economia ). Esse indicador foi
calibrado para equivaler a 100 no pré-pandemia e está
rodando há vários meses em torno de 90. Não está
crescendo, mas não está caindo. Ainda não captamos o
efeito da nova rodada de lockdown. Esses lockdowns
estão acontecendo praticamente no mesmo período do
ano passado. Então, há um viés de baixa para o PIB do
segundo trimestre. Olhando o ano, estimamos que o
carrego estatístico para o PIB de 2021 é de 3,6%. Como
a gente prevê alta de 4%, isso significa que o
crescimento é modesto. Quais são os riscos desses
4%? Da virada do ano para cá, a gente subiu a projeção
do PIB mundial de 6,2% para 6,9%, muito em função de
uma revisão positiva para a economia americana, que
poderia, em tese, ajudar o Brasil. Esse é um risco
positivo. O negativo é a pandemia. Se tivermos um
impacto que seja metade do da primeira onda, e
supondo que o lockdown dure dois meses, o PIB deve
crescer 0,5% no primeiro trimestre e cair 0,4% no
segundo trimestre. Se o lockdown for mais longo, até
maio, aí cairia 0,7% no segundo. Mas vamos ter uma
ideia mais clara do efeito do distanciamento social daqui
a umas duas ou três semanas.O mercado financeiro está instável nos últimos dias,
muito por conta da intervenção do governo na
Petrobrás, do descontrole da pandemia e do atraso na
vacinação. Ainda que a dívida do País caia neste ano e
que a PEC do auxílio emergencial tenha sido aprovada
no Senado, o País passa por uma crise de confiança?Esse é o ponto crítico. Desde o fim do ano passado, os
economistas vêm ressaltando a importância de se
conter a pandemia. Do ponto de vista humanitário, é
óbvio, mas, além disso, também do ponto de vista
econômico. Não tem recuperação consistente sem