Conhecimento Prático Língua Portuguesa e Literatura - Edição 77 (2019-06)

(Antfer) #1
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS

SOBRE A AUTORA
Aline Fernanda Camargo Sampaio é
mestra em Educação e Linguagem pela
USP, especialista em Docência no Ensino
Superior, graduada e Licenciada em
Letras/Português pela USP, pesquisadora
do Grupo DiCLiME-USP (Diversidade
Cultural, Linguagem, Mídia e Educação)
e professora universitária. E-mail:
[email protected].

ra, melhorar as estratégias, principalmente de
compreensão (um dos principais problemas de
aprendizagem, segundo os exames de avaliação
nacionais e internacionais) e oferecer muitos e
variados textos. Dos caminhos a seguir, dois fa-
vorecem a intimidade dos alunos com o texto:
ensinar a estabelecer previsão e inferência, es-
tratégias que são invocadas na prática da leitu-
ra, logo no primeiro contato com o texto, e que
devem ser “provocadas” conscientemente pelo
professor na prática de leitura.
Vai ficando claro, assim, que a leitura
significativa resulta tanto da ação do tex-
to como do leitor, um agindo sobre o outro
em um movimento constante e dinâmico.
Socializar as interpretações de texto contri-
bui para a construção de novas e possíveis
leituras, as quais não poderiam ser desper-
tadas individualmente. Para isso, é preciso
estar disponível para a escuta verdadeira,
capaz de aceitar, inclusive, a divergência in-
terpretativa e a ausência de uma única inter-
pretação conclusiva.

ALVES, Rubem. Entre a ciência e a
sapiência: o dilema da educação. 4. ed. São
Paulo: Loyola, 2000.
BAJOUR, C. Ouvir nas entrelinhas: o valor
da escuta nas práticas de leitura. São
Paulo: Pulo do Gato, 2012.
BENCINI, Roberta. Compreender, eis a
questão. Ensine a estabelecer inferência
e previsão, estratégias que ajudam a
entender melhor um texto. Revista Nova
Escola, n. 160, mar. 2003.
COLOMER, T. A formação do leitor literário.
São Paulo: Global, 2007.
FREIRE, P. Educação e mudança. Trad.
Moacir Gadotti e Lilian L. Martin. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1981.
GERALDI, João Wanderley (org). O texto na
sala de aula. 3a ed. São Paulo: Ática, 1999.
LAJOLO, M. Do mundo da leitura para
a leitura do mundo. São Paulo: Editora
Ática, 2006.
VIEIRA, Alice. O prazer do texto:
perspectivas para o ensino de literatura.
São Paulo: EPU, 1989.

Ou seja, não basta dizer o que entendeu so-
bre uma determinada obra. É preciso explicitar
como chegou a esse entendimento. Essa socia-
lização das diferentes estratégias de compreen-
são leitora contribui, entre outras coisas, para
ampliar e aprofundar a compreensão e também
aumenta o repertório de procedimentos leitores
dos alunos, pois descobrem os muitos caminhos
que podem escolher para entender um texto.
Desse modo, quando apresentam seus ar-
gumentos sobre as opiniões emitidas pelos
colegas, justificando-se a partir da própria
obra em discussão e de suas outras leituras, os
alunos podem exercitar o pensamento críti-
co, eliminando as incoerências e contradições
de suas próprias interpretações. Trata-se, nas
palavras do escritor JORGE LARROSA 6 , de “pensar
a leitura como uma atividade que tem a ver
com a subjetividade do leitor. Não somente
com aquilo que o leitor sabe, mas também com
aquilo que ele é. Trata-se de pensar a leitura
como algo que nos forma (ou nos deforma ou
nos transforma)”.

um menino antecipado... Fui alfabetiza-
do no chão do quintal da minha casa, à
sombra das mangueiras, com palavras
do meu mundo e não do mundo maior
dos meus pais. O chão foi o meu quadro-
-negro; gravetos, o meu giz”.
O estímulo à leitura deve ter início na
infância. Sabemos que as histórias
sempre agradaram, pode ser ouvindo,
lendo, assistindo a um filme ou a uma
novela. Nosso foco, porém, é o livro e
as emoções que ele pode proporcionar.
Portanto, mãos à obra, no caso, literá-
ria. Mas como se dá esse namoro?
O linguista João Wanderley Geraldi
afirma que: “... a leitura é um proces-
so de interlocução entre leitor/autor
mediado pelo texto. Encontro com o
autor, ausente, que se dá pela sua pa-
lavra escrita”, ou seja, ler é interpretar
e compreender o que o autor quer
transmitir tanto nas linhas como nas

entrelinhas. Ele mesmo aponta para
o perigo da indicação de leitura pela
simples indicação: “A escola, reprodu-
zindo o sistema e preparando para ele,
exclui qualquer atividade não rendosa:
lê-se um romance para preencher uma
famigerada ficha de leitura, para fazer
uma prova ou até mesmo para se ver
livre da recuperação”.
Pode até parecer absurdo, comple-
menta Yvonne Rodriguez, mas muitos
colégios usam e abusam deste método
não satisfatório àqueles que realmen-
te sabem o significado de uma boa
leitura, gostam e querem aprender ou
ensinar a ler. A professora, escritora e
pesquisadora Marta Morais Da Costa
afirma que “a leitura é ação que está
no cotidiano das pessoas e dos alunos.
Não se trata de apresentar (a não ser
para quem esteve inserido em uma so-
ciedade em que não circulam escritos:

a de Tarzan das Selvas), mas de prepa-
rar para ler, lidar com esses textos e
distingui-los”.
Há várias formas de despertar um lei-
tor, a partir da sala de aula, diz Lellis
Azevedo, contadora de histórias: “Uma
das grandes vedetes é a roda de leitu-
ra, que agrada muito aos pequenos. Os
maiores são seduzidos por encontros
literários, que são as obras literárias
apresentadas em forma de paródias,
poesias, literatura de cordel, apre-
sentações teatrais, paráfrases, jogos
de adivinhações literárias, além das
reflexões, interpretações e compreen-
sões de textos por meio de perguntas
coerentes que levem o aluno a pensar
e participar das aulas de uma forma
lúdica e agradável. Isso sem falar nos
filmes, documentários, vídeos os mais
variados... Enfim, é só soltar a imagina-
ção”, ensina. Da Redação

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