Conhecimento Prático Língua Portuguesa e Literatura - Edição 77 (2019-06)

(Antfer) #1
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O


ato de escrever – e bem – tornou-
-se um mantra para grande parte
das pessoas. De vestibulandos a
executivos, de blogueiros e blo-
gueiras a novos autores de fi cção, a procura
pela criatividade na hora de produzir um tex-
to, seja ele escrito, falado, curto ou longo, pa-
rece, por vezes, tão árduo quanto o CAMINHO DE
COMPOSTELA 1.
Mas onde se encontra o talento? Inspiração
é dom divino ou um processo tipicamente hu-
mano? Todas as pessoas são criativas? Este é
um desafi o muito grande, refl etir sobre criati-
vidade dando ênfase à produção textual e res-
ponder à pergunta fatal: “Mas, afi nal, o que é
essa tal criatividade?”.
No Novo Dicionário Aurélio da Língua
Portuguesa encontra-se a seguinte defi nição:
“criatividade – qualidade de criativo; capacida-
de criadora; engenho, inventividade; capacidade
que tem um falante nativo de criar e compreen-
der um número ilimitado de sentenças em sua
língua”. No Dicionário Houaiss lê-se “criatividade
é uma qualidade ou característica de quem ou
de que é criativo; inventividade, inteligência e
talento, natos ou adquiridos, para criar, inventar,
inovar, quer no campo artístico, quer no científi -
co, esportivo etc.” A criatividade é defi nida como
uma característica do indivíduo que é criativo,
uma capacidade que pode ser nata ou adquirida.
ANNE LAMOTT 2 , em seu livro Palavra por pa-
lavra, diz o seguinte: “Escrever pode ser uma
empreitada bastante trágica, porque se trata de
uma das nossas necessidades mais profundas:
a de ser visto e ouvido, de dar sentido à nossa
vida, de despertar, crescer e pertencer. Não é de
espantar que algumas vezes tenhamos a ten-
dência de nos levar um pouco a sério demais”.
A criatividade pode ser entendida como
uma forma de saber utilizar as informações,
ou como resultado da interação entre proces-
sos cognitivos, personalidade, variáveis am-
bientais e elementos inconscientes, envolven-
do uma interação dinâmica entre elementos

relativos à pessoa e ao ambiente, e é conside-
rada um fenômeno psicossocial. A expectativa
relativa à produção de textos criativos requer
clareza quanto ao que é criatividade, que tam-
bém pode ser entendida como a expressão de
ideias originais e pode estar relacionada à ima-
ginação, à inventividade ou mesmo à noção de
capacidade crítica.
JOSÉ PREDEBON 3 , em Criatividade: abrindo o
lado inovador da mente, afi rma que “a espécie
humana tem capacidade inata e exclusiva de
raciocinar construtivamente. Essa capacidade
produz o que tranquilamente pode ser chama-
do de criatividade. O autor diz que os talentos
natos são mais raros e caracterizam-se pelas
tendências compulsivas de questionar, mudar,
inventar novas maneiras de fazer as coisas e
que os indivíduos aos quais as circunstâncias
e o aprendizado tornaram criativos não se ca-
racterizam pelo comportamento compulsivo, e
sim por uma vontade de fazer.

A HORA DA VERDADE
Para qualquer lugar que olhamos, vemos
uma variedade de textos escritos: rótulos,
anúncios, livros, revistas, jornais, quadrinhos,
cartazes, folhetos, correspondências, docu-
mentos e tantos outros. Há um mundo a ser
lido: obras didáticas, textos diversos que circu-
lam na internet ou ambiente escolar. E aí surge
o grande desafi o: produzir textos, uma tarefa
nem sempre fácil, pois demanda uma série de
conhecimentos. Pese sobre isso aspectos or-
tográfi cos e gramaticais; a escolha e o estudo
do tema, pois sem informação não é possível
escrever, conhecimentos de estruturação do
discurso; dos recursos de produção de textua-
lidade (coesão e coerência textual) e de organi-
zação e progressão das ideias.
Lellis Hermes Claro, professora doutora de
Teoria Literária e Produção de Textos que mi-
nistra aulas para o público universitário e tam-
bém é a criadora da ofi cina Criando Laços com
a Escrita, argumenta que falar em criatividade

1

2

3

CAMINHO DE
COMPOSTELA
OU CAMINHOS
DE SANTIAGO
São os percursos
dos peregrinos que
vão a Santiago de
Compostela desde
o século IX para
venerar as relíquias
do apóstolo Santiago
Maior. Normalmente,
inicia-se o percurso
por Saint-Jean-
Pied-de-Port, na
França, e termina
em Ronocesvalles,
em Compostela. São
cerca de 1.575 km,
percorridos em uma
média de 67 dias.

ANNE
LAMOTT
É escritora,
palestrante e
ativista política
progressista
norte-americana.

JOSÉ
PREDEBON
É escritor e
especialista em
Criatividade e
Inovação de
Criatividade.

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