Banco Central do Brasil
Folha de S. Paulo/Nacional - Mercado
sexta-feira, 12 de março de 2021
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O balanço da presença de Campos Neto nos debates
não é considerado um problema na pasta também
porque há forte correlação existente hoje entre as
políticas monetária e fiscal. Por isso, conter os gastos
facilita o trabalho do BC ao decidir sobre juros.
Segundo integrantes do governo, quanto mais juntos
Economia e BC estiverem, melhor para ambos. Seria
uma situação de ganha-ganha.
Entre analistas ouvidos, a atuação de Campos Neto
para fora das paredes do BC não é vista como
tradicional Mesmo assim, o episódio não chega a ser
considerado um problema, sobretudo devido às
condições do cenário econômico.
"Não é atribuição do presidente do BC esse tipo de
coisa, com certeza não é, e evidentemente tem algum
custo no sentido institucional. Mas [dadas as condições]
acho absolutamente legítimo e acho que o presidente
do BC agiu de maneira correta", afirma José Júlio
Senna, ex-diretor do BC e analista do Centro de
Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia
da FGV.
"É um momento muito conturbado da nossa história. Se
não estivesse tendo uma crise sanitária, a economia
enfraquecida, se o mercado de câmbio estivesse calmo,
de repente ele podería ter agido de outra maneira. Mas,
em um momento como esse, o risco de dar um passo
em falso é alto."
Ele acrescenta que em economias avançadas as
divisões entre as políticas monetária e fiscal estão
ficando menos rígidas em busca de soluções para a
crise econômica.
Para Sérgio Praça, cientista político e professor da FGV,
a articulação de Campos Neto no Congresso diz mais
sobre Guedes do que sobre o próprio presidente do BC.
"Guedes desde muito tempo tem embates com
parlamentares, como o ex-presidente da Câmara
Rodrigo Maia. Ao longo de 2020 ele e sua equipe
perderam a credibilidade que tinham conquistado em
2019, e esse espaço está sendo preenchido por
Campos Neto."
Praça destaca que os cenários econômico e fiscal foram
muito afetados depois da pandemia, o que pode abrir
caminho para que a articulação do titular do BC seja
bem-vinda, mas diz que limites precisam ser
respeitados.
"É natural que essas articulações ocorram porque a
crise fiscal está chegando a um nível insustentável,
então todos os envolvidos na política econômica tentam
fazer algo. O perigo é fazer isso fora do organograma
normal."
A maior presença de Campos Neto nas discussões
coincide com um momento de aumento de inflação e
perspectiva de aumento de juros, com uma atividade
não plenamente recuperada e novas medidas de
restrição.
Normalmente, o desempenho fraco da economia
desacelera os preços. Economistas atribuem a situação
à falta de âncora fiscal.
"A estagflação é normal em países que não têm âncora
fiscal, e isso gera efeitos de longo prazo. O Brasil sairá
da pandemia na contramão do mundo e isso afasta
investimentos", diz a economista-chefe do Credit Stússe
Brasil e colunista da Folha, Solange Srour.
"A atuação de Campos Neto nesse sentido [em
decisões fiscais] indica essa cautela. A política
monetária sozinha não vai fazer todo o trabalho, então
não adianta só subir a Selic porque as expectativas não
serão ancoradas."
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