Banco Central do Brasil
Revista Exame/Nacional - Entrevista
quinta-feira, 11 de março de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Bitcoins
Sempre há investidores dispostos a ocupar esses
espaços não regulados. O problema é quando pessoas
com conhecimentos básicos no mercado financeiro
resolvem entrar na onda e acabam se afogando. É
assim que as bolhas se formam. Não é diferente com
bitcoin ou com outras bolhas que vimos no passado. O
pequeno investidor é quem fica com o prejuízo.
As bolsas bateram recordes de alta durante a
pandemia. Estamos vivendo uma bolha?
Não sou uma analista de ações, então talvez não seja a
melhor pessoa para responder a essa pergunta. Mas eu
acredito que há um lado psicológico nas oscilações do
mercado. Quando há uma queda, as pessoas buscam
por qualquer motivo para a negatividade, e as bolsas
despencam. De uma hora para outra, sem nenhum
motivo, voltam a subir. Pode ser que os investidores
tenham se cansado de tanta negatividade na pandemia
e decidido buscar um motivo para ser positivos.
O presidente Joe Biden vai impulsionar a agenda das
finanças sustentáveis?
Ele se elegeu com essa promessa e já está agindo
nesse sentido. Ele se elegeu com um discurso de
criação de empregos via investimentos na economia
verde, em detrimento dos subsídios aos combustíveis
fósseis. Pelo que tenho notícia, ele também está
revertendo sistematicamente políticas e regulações
estabelecidas por Donald Trump que vão contra a
agenda ambiental. Quando ficou claro que os
democratas poderiam vencer as eleições, nós lançamos
a “cesta Biden”, com ações que poderiam se beneficiar
de suas políticas. Esses papéis, basicamente de
empresas de energia limpa, valorizaram, de fato. O
presidente tem sido muito transparente em suas ações.
A força do capital privado é capaz de resolver a
desigualdade social que ainda persiste no mundo
capitalista? Qual será o papel dos governos nessa nova
configuração econômica?
Não será só com capital privado, ou só com capital
público, que vamos resolver o problema. Muitos
empreendedores estão criando modelos de negócios
que buscam desenvolver o “S” do ESG. Vi soluções
interessantes, no Brasil, de casas populares, por
exemplo. Os investidores estão buscando
oportunidades em companhias que atuam na base da
pirâmide. Em vez de tentar mudar todo um modelo de
negócios para se encaixar em determinado estrato
social, é melhor começar por um problema específico e,
a partir dessa solução, fazer uma espécie de
engenharia reversa. De repente, a companhia vai sendo
transformada. Mas sabemos que os governos têm
várias lacunas a preencher, especialmente no pós-
pandemia. O setor privado precisa estar aberto a
parcerias. Algumas soluções simples, como regulações
para permitir o surgimento de novos modelos de
negócios no setor de saúde, por exemplo, podem ser
muito efetivas.
A questão é que a pandemia acentuou as
desigualdades. E, com a transição para a nova
economia, é possível que mais pessoas sejam deixadas
de fora por falta de capacitação. Como resolver isso?
Começa com o básico. As pessoas precisam de três
coisas para ser capazes de se desenvolver: moradia,
comida e serviços de saúde. Mas acredito que o maior
desafio esteja na educação. Mesmo nos países
desenvolvidos, os mais pobres recebem uma educação
de pior qualidade. Com tecnologia, isso pode melhorar.
Antes da pandemia, menos de 3% do ensino no mundo
era digital. Passamos para mais de 90%. A educação
digital permite maior personalização. Nem todo mundo
aprende da maneira tradicional. Também devemos
gastar tempo e dinheiro em capacitações para
empregos que vão existir no futuro. É um tema
complicado, no entanto; são muitas intervenções
necessárias. Agora, de uma forma ou de outra, se não
resolvermos [a desigualdade], a sociedade vai implodir.
De certa forma, será um despertar forçado, porque não
é sustentável do jeito que está.
Assuntos e Palavras-Chave: Banco Central - Perfil 1 -
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