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Revista Carta Capital/Nacional - Seu País
quinta-feira, 11 de março de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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Autor: Manuela D ́Ávila
ARTIGO Em nenhum outro 8 de março precisamos
tanto batalhar pela vida de mulheres e crianças como
agora
Não há data comemorativa que não seja transformada
em momento de consumo neste capitalismo que
associa toda a beleza da vida à possibilidade de ter e de
consumir. Há algum tempo essa disputa também é
travada no 8 de março: flores, presentes, panelas
(pasme!). Homenagens à nossa doçura, à nossa
candura e, eventualmente, à nossa força e “capacidade
de fazer tudo ao mesmo tempo”, ou seja, em última
instância, homenagens à não divisão do trabalho
doméstico e o que representa de exaustão feminina o
trabalho não remunerado, a estrutura de cuidados que
sustenta a nossa sociedade.
Mais recentemente, com a ascensão da extrema-direita
e toda a disputa travada com base em desinformação e
pós-verdade, testemunhamos o esforço para o
apagamento da data (quem nunca ouviu a célebre frase:
por que não existe um dia do homem?), para
desconstrução do movimento feminista, buscando nos
associar, nós mulheres feministas, a mulheres
monstruosas, tal qual fizeram com as bruxas na Idade
Média. Somos aos olhos da plateia fascistoide mulheres
anti-homens que se masturbam com crucifixos em praça
pública. Tudo isso em um país que acompanha com o
silêncio cúmplice das instituições a escalada da
violência política de gênero, sustentada pela misoginia
celebrada no golpe que derrubou Dilma Rousseff. Todas
sabemos: o golpe tem sentido antidemocrático,
antipopular e antinacional, mas foi legitimado
socialmente a partir do machismo e da misoginia. E, de
lá para cá, a violência contra mulheres apenas cresceu.
Se é aceitável socialmente o simbolismo da violência
sexual com a bomba de gasolina na presidenta da
República, o que poderia sobrar para as demais
mulheres?