Newsletter Banco Central (2021-03-13)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

Revista Carta Capital/Nacional - Economia
quinta-feira, 11 de março de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Selic

empreendimentos. São resultado e causa da nossa
desigualdade. Esse segmento é obrigado a se expor, é
um enorme contingente e está muito vulnerável à
pandemia”, analisa o economista Célio Hiratuka,
professor e diretor associado do Instituto de Economia
da Unicamp. Exemplos são as categorias relacionadas
pelo IBGE como comércio, reparação de veículos,
transporte, armazenagem, correio, alojamento e
alimentação, atividades imobiliárias, administrativas e
serviços complementares, artes, cultura, esporte e
recreação, serviços domésticos e outras atividades que,
reunidas, compõem 46,2% do total do setor de serviços.


A “recuperação em V” prometida por Paulo Guedes não
veio, enquanto a segunda onda da Covid-19,
considerada improvável pelo seu secretário de Política
Econômica, Adolfo Sachsida, espalha-se em alta
velocidade, mas nem assim o governo age com eficácia
para assegurar suporte financeiro às famílias e
empresas, o oposto do que ocorre nos países
avançados. O auxílio emergencial virá menor e menos
abrangente e diante da perspectiva de bloqueios da
atividade econômica não essencial, sindicatos de
empresas pedem o retorno do Programa Emergencial
de Manutenção do Emprego e da Renda, a prorrogação
do prazo para pagamento de empréstimos concedidos
via Pronampe, a juros abaixo da Selic, e o
parcelamento de tributos. Associações de proprietários
de bares e restaurantes contabilizam 300 mil negócios
fechados e o extermínio de 1 milhão de postos de
trabalho em 2020. Muitos consideram este ano ainda
mais ameaçador.


“O setor de serviços não se recuperou. Teve uma
sequência de resultados positivos depois do baque
gigantesco em março e abril do ano passado, mas as
bases de comparação estão muito deprimidas, portanto,
qualquer reação resulta em variação positiva. Em
comparação com fevereiro de 2020, no período pré-
pandemia, o nível de atividade do setor continua baixo.
Estagnado em dezembro, teve em janeiro crescimento
muito pequeno e a perspectiva para os próximos meses
continua desfavorável, devido à aceleração de casos de


Covid-19, ao fim dos programas de auxílio emergencial,
que ainda não foram renovados, e da perspectiva de
retomada de medidas mais restritivas”, analisa Rafael
Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para
o Desenvolvimento Industrial. “Fica cada vez mais claro
que no setor de serviços, mais do que em qualquer
outro, recuperação de verdade, com uma nova fase de
dinamismo e crescimento, só virá com a vacinação em
massa e o fim da pandemia.”

O aumento de peso do setor de serviços na estrutura
econômica brasileira, diz, é uma vulnerabilidade, expôs
a economia a um desempenho negativo neste quadro
de pandemia por ser o mais atingido pelas medidas de
isolamento e distanciamento físico e pelo medo dos
mercados e da população. “Seria diferente se
tivéssemos um setor de serviços mais complexo, mais
qualificado, de maior valor agregado, mas é difícil
caminhar nessa direção sem estar acoplado a uma
indústria que demanda esses setores e permite uma
integração internacional dos ramos de maior
sofisticação no comércio mundial. O problema é que o
País foi perdendo competências industriais, há
perspectiva de nova revolução tecnológica e essa
defasagem dificulta a participação no processo”, alerta
Cagnin.

O economista teme o aprofundamento do
descarrilamento do tecido industrial, das competências
que o Brasil não conseguiu preservar ao longo desse
processo adverso e o distanciamento daquelas que
estão emergindo e serão a fonte futura do dinamismo
econômico no mundo inteiro. “A pandemia me
preocupa, mas as consequências desse processo me
preocupam mais. As políticas industriais, o
desenvolvimento tecnológico e a difusão das novas
tecnologias digitais aceleram no mundo inteiro para
preparar a saída da pandemia, a começar pelos
programas de recuperação da União Europeia, do
Japão, da China e dos Estados Unidos. É disso que se
trata, é isso que vai acontecer. E o Brasil fica para trás
nesse processo, porque não lidou bem com a
pandemia, as empresas vão sair machucadas desse
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