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Banco Central do Brasil

Revista Conjuntura Econômica/Nacional - Capa
quinta-feira, 11 de março de 2021
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Autor: Solange Monteiro


Um ano depois da chegada da Covid-19 no Brasil, país
enfrenta as consequências de suas ações - e omissões



  • para conter a crise sanitária e econômica


Dar um passo atrás, arquear as costas na direção
oposta ao ponto observado são movimentos
automáticos acionados pela percepção humana de que,
para se avaliar algo em sua totalidade, é preciso tomar
distância. Sem ter tirado os dois pés da pandemia, e
ainda descrente da proporção da incerteza e dor por ela
provocada, falta espaço para qualquer ser humano
atingir a distância temporal e emocional necessária a
uma mirada mais ampla sobre o choque de Covid-19
que marcou 2020. Com o olhar treinado de historiador, o
israelense Yuval Harari, autor do best-seller Sapiens -
uma breve história da humanidade, contribuiu para essa
análise em artigo publicado no mês de fevereiro no
Financial Times. Nele, Harari ressalta as surpresas
extremamente positivas advindas da ciência, que
rapidamente armou a sociedade de informação e
ferramentas para controlar a disseminação da doença.
Ao primeiro alarme, no final de dezembro de 2019,
cientistas foram acionados e em poucas semanas o
vírus tinha sido isolado e sequenciado; medidas de
contenção do contágio foram divulgadas mundialmente;
e em menos de um ano mais de uma vacina foi
desenvolvida, testada e aprovada para uso. A isso
somaram-se avanços tecnológicos que permitiram a
manutenção de parte das atividades econômicas e
sociais em meio ao isolamento, aumentando nosso
tempo vivido dentro do mundo digital em detrimento do
mundo físico hospedeiro do vírus. Uma realidade
completamente diferente, compara Harari, da
experiência da Peste Negra, na Eurásia da Idade Média,
em que a população acompanhou a doença se proliferar
e ceifar a vida de um terço dos europeus sem saber
como e por quê.


Mas o historiador aponta uma fronteira que a ciência
não conseguiu romper, responsável por conter parte do


sucesso no combate ao novo coronavírus: a política.
Tomando a mesma comparação, se na época da Peste
Negra não se podia culpar um monarca pelas vidas
perdidas, já que o pouco entendimento sobre a doença
a colocava dentro da caixa das fatalidades, hoje é
possível identificar que o êxito ou fracasso no controle
da disseminação do novo coronavírus deveu-se também
ao custo social e econômico que cada governo, e os
países em conjunto, pôde ou aceitou pagar. Neste
tempo de convívio com a Covid-19, pode-se reconhecer
que a falta de maior concertação internacional, seja no
provimento de insumos hospitalares, seja na distribuição
de vacinas, no médio prazo não é positiva para
ninguém. “Os países ricos absorveram metade das
vacinas disponíveis, obrigando as empresas sediadas
em seu território a produzir America first, European
Union first, ricb first. Mas sabemos que, se mantivermos
a infecção circulando em outras regiões, o mundo inteiro
estará ameaçado”, afirmou Paulo Marchiori Buss,
coordenador do Centro de Relações Internacionais em
Saúde (Cris/Fiocruz), ao Blog da Conjuntura Econômica
(http://bit.ly/3qD3EB3). Desse lado negativo também
fazem parte os mandatários que por falta de
planejamento, negligência e/ou populismo negacionista


  • do qual Harari cita como exemplo Donald Trump e Jair
    Bolsonaro - prejudicaram o quadro da pandemia,
    dificultando as ações de combate contra o vírus em
    seus países.


No Brasil, afora a grave crise deflagrada em Manaus,
desde o final de fevereiro, quando se cumpriu um ano
do anúncio do primeiro caso de contágio, o país tem
quebrado recordes de vítimas de Covid-19. No início de
março, superou 10 mil mortes em uma semana, sob um
cenário de colapso no atendimento hospitalar e retorno
a medidas mais restritivas de isolamento em diversos
estados. De um lado, o ritmo lento e trôpego de
vacinação tem mantido as pessoas expostas aos efeitos
do vírus. Até 5 de março, o Brasil registrava 3,6% da
população vacinada, enquanto no Chile, apesar de uma
população expressivamente menor que a brasileira,
20,5% haviam tomado ao menos a primeira dose de
imunizante. De outro lado, o relaxamento de medidas de
prevenção - como falta de uso de máscara e formação
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