Dragões - 201608

(PepeLegal) #1

REVISTA DRAGÕES agosto 2016


32


estágio


Serão um exemplo paradigmático de uma fa-
mília que teve de abandonar Portugal devido
à crise económica, mas que não perdeu a li-
gação ao país e ao clube de futebol que ama,
o FC Porto. A família G onçalve s – que inclui
João, de 35 anos, Carina, de 33, Sara, de oito,
e To m á s, de 1 8 me s e s – fo i u m a d a s mu it a s
q ue p a s s ou a lg u m a s hora s à p or t a do hote l
do SportCentrum Kamen-Kaiserau, para ver
de perto os ídolos e conseguir algumas fo-
tos. O ca m i n ho e nt re a u n id ade hote le i ra e
o campo de treinos não era longo (cerca de
3 0 0 m e t ro s ) , m a s to d o s o s d i a s h av i a p o r
a l i c u r i os os. S i mp l i f i ca n do, d iv ide m- s e e m
d u a s c ate go r i a s : o s a d e p to s p o r t i s t a s ( q u e


Centro de Treinos do Olival e do Estádio do Dra-
gão e mantê-los assim até ao fim dos trabalhos.
E se pensa que a relva crescer dois ou três dias
não faz diferença está muito enganado.
“Cortamos a relva todos os dias e batemos o
campo. Bater o campo é reparar os danos que
os jogadores fazem com as chuteiras, os bura-
cos, para que o terreno esteja sempre nivelado.
Quando chegámos aqui o relvado estava razoá-
vel, um bocado massacrado. Agora está cinco
estrelas”, brinca Nuno Andrade, de 38 anos, que
já vai no quinto estágio com o FC Porto. O autoe-
logio foi dito em tom de brincadeira, mas mes-
mo um leigo no assunto percebia que os tape-
tes verdes utilizados pelos Dragões em Kamen
estavam quase imaculados. E os destinatários
do trabalho fazem sentir a satisfação junto dos
tratadores: “Jogadores e treinadores já deram-
-nos os parabéns. É como ganhar o campeonato,
é a parte gratificante”. A regra não tem até agora
exceção: o campo entregue aos portistas é de-


volvido sempre em melhores condições.
Para além da parte visual – que já é “uma mar-
ca” do clube, como os dois funcionários da RED
fazem questão de sublinhar -, o bom estado da
relva permite um treino mais fluído e previne
lesões. Ainda assim, são poucas (ou nenhumas)
as equipas na Europa que têm este cuidado e
tomam para si a manutenção e tratamento: a
maior parte inclui nos contratos que os tapetes
dos estágios têm de estar em condições ótimas,
mas muitas vezes deparam-se com surpresas.
Durante os treinos, os tratadores mantinham-se
a postos, porque o treinador “pode pedir água” e
tinha de ficar tudo “como ele quer”. Assim, uma
jornada de trabalho pode começar às 8h30 e
terminar às 20h00, incluindo trabalho durante
o pico de calor, à tarde.
“Eu gosto disto, mas é cansativo, especialmente
na primeira semana, quando estamos sozinhos.
Depois chega o pessoal e há mais convívio”, re-
conhece Nuno Andrade, que tem a companhia

preferem as fotos e as selfie s) e os caçadore s
de autógrafos profissionais. Mas já lá vamos
ao segundo grupo, porque primeiro importa
d a r voz à q ue le s q ue s o f re m co m o clu b e à
distância.
“ T i n h a v i s to d e m a n h ã q u e h av i a t re i n o e
pusemo-nos ao caminho. Fizemos 80 quiló-
metros e cá estamos”, contou João Gonçalves,
que não se cansou de tirar selfies com os ído-
los que agora acompanha de longe. Natural
da Póvoa de Varzim, mudou-se há seis anos
para Paderborn com a família, entretanto am-
p l i a d a co m o n a s c i me nto de To m á s, j á e m
solo alemão. Sara cresceu em regime bilin-
g ue, fa l a a le m ão n a e s col a e p o r t ug uê s e m

As selfies


que fazem os


emigrantes


sentir-se


em casa


de Pedro Matos, de apenas 19 anos, que está a
cumprir o primeiro estágio com os Dragões. Fa-
nático pelo clube, considera que é “fantástico
estar perto destes jogadores” e até levou uma
camisola autografada pelo plantel no regresso
a Portugal. Um sonho? “Pode dizer-se que sim”,
assume.
E m cad a a no de e st ág io su rge m nova s con-
d ic ion a nte s. Nu no A nd rade re cord a q ue no
ano passado, na Holanda, encontraram “cam-
pos secos” e foi necessário “arranjar os asper-
sore s”. Mas, ne ssas semanas em Horst, houve
uma história mais curiosa: danos no relvado,
repetidamente no mesmo local, mesmo de-
p o i s de s e re m colo cados tor rõ e s novos. “ E ra
um coelho. Todos os dias de manhã chegava
ao campo e tinha de struído o torrão. Já tinha
tido de lidar com alguns coelhos, mas nun-
ca nenhum tão bravo”, conta Nuno Andrade,
re cord a ndo q ue o m i sté r io de morou vá r ios
dias a ser resolvido.

casa – mas não abdica de ir com a camisola do
FC Porto para as aulas. Aliás, ambos os filhos
do casal Gonçalves são sócios do clube.
A língua alemã também já não é chinê s para
Jo ão e C a r i n a e p e rce b e - s e q ue s e t rat a de
u m a fa m í l i a p e r fe it a m e nte i nte g ra d a. M a s
não é a mesma coisa que estar na terra na-
tal, claro. “Para nós, estes momentos são mais
importantes do que para quem vive em Por-
tugal. Dá-nos logo uma sensação de e star em
casa”, explica Carina, enquanto a pequena
Sara lamentava não poder ver os j ogadore s
no campo. A oportunidade ficará provavel-
mente adiada para as férias de Verão – sem-
p re q u e re g re s s a m a Po r t u g a l , a p rove it a m
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