Natureza - Edição 378 (2019-07)

(Antfer) #1
NATUREZA || ̯̱

Entender que plantar podia ser melhor que andar
incansavelmente foi o primeiro esforço para perceber,
afinal, como funcionavam as verdinhas.
O entendimento de que cada uma servia para
coisas diferentes veio rápido. E essa foi a primeira
grande divisão feita pela botânica que principiava: as
plantas boas pra comer e as que curavam os males.
De barriga cheia e bem de saúde, ainda restava o
medo da fúria dos deuses, com suas tempestades
e catástrofes naturais. E desta vez foram as plantas
alucinógenas que facilitaram as conversas com as
divindades, inspiraram cultos e a construção de
igrejas. E claro, desde sempre, diversas plantas foram
cultivadas apenas pela beleza de suas flores e folhas
para enfeitar a vida.
É esse cultivo com fins bem determinados que
se chama “domesticação” de uma planta. As plantas
“selvagens” cresciam aleatoriamente mas aos poucos
ficou claro que a escolha de sementes, o cuidado com
o solo, a adubação, as regas planejadas traziam um
resultado muito melhor. Assim, cachos de cereais que
eram pequenos se tornavam grandes e a tribo ficava
muito melhor.
Mas boa parte disso é dedução dos cientistas.
Prova mesmo do surgimento da botânica só com o
filósofo grego Teofrasto, que era discípulo de
Aristóteles e viveu entre 372 a.C. e 287 a.C. Ele escreveu
duas coleções que cruzaram os séculos: Historia
plantarum (História das Plantas) e De Causis plantarum
(Sobre as causas das plantas). O tal Teofrastro
acertou tanto que seus ensinamentos atravessaram o
período dos romanos, a Idade Média e chegaram como
verdades até o Renascimento, no século 14.
Nesse meio-tempo, a ciência pouco andou. A
alimentação era praticamente a mesma, e a maior
fonte de preocupação era com as plantas medicinais.
A moda, por séculos, foi produzir os chamados
livros herbais, que ensinavam qual planta servia
para curar qual doença. Como poucos sabiam ler,
o conhecimento do poder das plantas medicinais
era praticamente um domínio feminino, passado
oralmente de uma mulher para a outra.
Na falta de conceito melhor, era usada a
“doutrina das assinaturas”, pela qual Deus deixou
em cada planta a marca para dar a “pista” para o
que ela servia. Assim, plantas parecidas com olhos
eram boas para a visão; plantas vermelhas, para o
sangue e assim por diante. A teoria era aceita pela
Igreja por razões óbvias.
Só na Renascença, quando o conhecimento


Na primeira grande
divisão de plantas
feita pela botânica
havia as espécies
comestíveis, as
medicinais e as
alucinógenas, como a
mandrágora (Atropa
belladonna), que
eram usadas em
rituais religiosos

Escritas pelo
ޖ)Ť0,#,",#/01/,
(ao centro), que
era contemporâneo
de Aristóteles,
Historia plantarum
e De Causis
plantarum foram
as primeiras
obras da história
da botânica,
e serviram de
referência até o
Renascimento

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