RDFQNF_VERSÃO DIGITAL_FINAL

(Oficina dos Filmes) #1

153


trabalha igual a qualquer um de nós. Nem pôde estudar muito.
Só teve sorte de aprender alguma coisa com os padres. Ficou
escondido no internato de um seminário para não ser levado pelos
alemães e aprendeu idiomas e gastronomia. É ranzinza, mas
sabendo levar...

JORGE: Já vamos, Murilo. Depois você me conta mais. Fiquei
curioso agora. (Passa o braço na cintura de Carmem.)

MURILO AHMED: A história dele é muito comentada por aqui. Ele
já tem mais de vinte anos no restaurante francês. Tem amizade
com o pessoal do consulado da França, que fica aqui perto, e
trabalha até em bufê em festas de bacana pra ganhar uns a mais
e viajar pra Paris nas férias. (Mostrando-se simpático) Apareçam
para um lanche. Tem muito livro aí pra venda e troca. Podem vir
ler também, ouvir música...

CARMEM (Mostrando-se curiosa): Verdade, Murilo, vou aparecer
sim. Preciso ler mais. Com o que ganho, só dá mesmo pra
comprar livro usado. Seu Gerardo me deu um livro outro dia que
conta a história de uma cigana. Uma tragédia. Paixão fatal. Prefiro
poesia.

MURILO (Pega um livro na prateleira da frente e entrega a
Carmem):
Tome emprestado. Leve e leia. É Fernando Pessoa. Depois, se
não quiser ficar, devolve. Se quiser ficar, pode pagar o preço da
etiqueta da contracapa.

CARMEM (Sorri, pegando o livro): Acho que vou ficar freguesa.

JORGE (Olha os dois, meio enciumado, e puxa Carmem para si):
Tá bom. Já chega por hoje! Vamos subir.

CENA 10 ∙ INTERNA ∙ BAZAR ∙ MEIO DA TARDE

Murilo Ahmed, agachado, arruma os livros do Bazar nas prateleiras.
Entra Hirszman.

HIRSZMAN: Como vai, Ahmed? Cheguei hoje. A política está
fervendo. Li no Pasquim que vai sair a anistia.

MURILO AHMED (Volta a cabeça receptivo e curioso):
Free download pdf