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(Oficina dos Filmes) #1

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HIRSZMAN (Olha para Murilo Ahmed, mostrando-se animado com
a novidade, pega o disco e um livro na prateleira, coloca na sacola
e vai saindo):
Peguei também O Lobo da Estepe. Só não vou deixar revistas
que você não vende aqui, mas, se quiser, deixo de presente uma
Playboy. Oferta da casa. Vendo fácil essas daqui (apontando para
uma mochila pendurada nos ombros) pra uns amigos na praça. Já
vou. Depois a gente acerta.

MURILO AHMED: Tá bom. Obrigada. Passe outra hora pra gente
conversar.

CENA 11 ∙ INTERNA ∙ BAZAR ∙ TARDINHA

GERARD DURAND (Chega ao Bazar e se dirige à estante de
discos. Logo se põe a ouvir Piaf e olha para uma pilha de livros
desarrumados):
Que livros são esses aí na mesa, Ahmed?

MURILO AHMED (Olha para ele, indiferente, continua arrumando a
prateleira):
São uns livros que Hirszman trouxe da Argentina. Disse que
ganhou por lá e deixou aí. Não tive tempo de ver ainda.

GERARD DURAND (Tirando o fone de ouvidos, dirige-se à mesa
próxima, consertando o suspensório):
São livros em espanhol. De Neruda a Garcia Marquez, de Fidel a
Farabundo Martí. Só tem um aqui que não é latino. Leo Huberman


  • A História da Riqueza do Homem. Mas também é comunista. Deu
    pra vender esse lixo agora?


MURILO AHMED (Faz-se de desentendido, sem dar muita
importância ao interlocutor):
Hirszman acabou de deixar aí. Nem olhei direito. Você sabe. Não
entendo espanhol e nem literatura latina. Só vendo.

GERARD DURAND: Tá se arriscando a ser preso.

MURILO AHMED: Só se você denunciar. A ditadura já está no fim.
Não vai fechar jornais e livrarias mais. Só quer assustar. Logo vem
a anistia e isso tudo acaba. Mas não quero que explodam meu
bazar. Vou devolver pra ele.
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