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Quando a vida não cabe na tela do cinema

Jéssica Sande

CENA 1 ∙ INT ∙ QUARTO DE JOCA BALEIRO ∙ NOITE

JOCA BALEIRO, 61, está sentado na cama calçando os seus sapatos.

Há um baleiro sobre a cama. Joca Baleiro põe o chapéu branco na

cabeça, pega o baleiro e coloca sobre os ombros. Olha para o espelho

e dá um largo sorriso. Joca Baleiro anda em direção à porta com

passos largos e coluna ereta.

CENA 2 ∙ INT. ∙ ENTRADA DO CINEMA ∙ NOITE

Joca Baleiro está vendendo doces ao lado da porta de entrada para

o cinema. Pessoas entram na sala de projeção. Um HOMEM e uma

MULHER se aproximam de Joca Baleiro.

HOMEM: Ô, Ninha, peraí, ó o nego bom.

MULHER: Seu Joca, vou pegar cinco negos desse aqui. Anota aí

que a gente acerta depois.

Joca Baleiro aponta com o dedo para sua própria cabeça.

JOCA BALEIRO: Tá anotado.

Joca Baleiro olha ao seu redor com um sorriso largo, cabeça

erguida, inclinando os pés para frente e para trás.

O PROJECIONISTA, 27, chega até a entrada do cinema.

PROJECIONISTA: Opa, Seu Joca, hoje vai passar o filme que o

senhor gosta.