52
Ó Judith – (com th para excluir confusões com outras menos importantes (para
mim):
Falta-me ainda fazer para essas evocações menineiras uma série de notas, glo-
sas, sobre muitos dos sonetinhos, sobre talvez a maioria. Pois quem só conhece a Grus-
saí moderna, (sem personalidade marcante ...), não aprenderá bem os encantos, certos
encantos de então, sem uns comentários explicativos – assim me advertiu um recente
leitor, aliás bem sagaz.
Você mesma não conheceu em cheio a Grussaí típica, a genuína, que principiou
a se alterar exatamente no mês do seu nascimento: janeiro de 1924. Pois aquele foi o
primeiro veraneio com a presença de veículos motorizados, transportando gente e baga-
gens para Atafona e de Atafona.
No verão seguinte inaugurou-se a igreja; antes era uma capelinha, tão simple-
zinha! Raramente surgia, raramente, alguma família veranista fora daquelas trinta que
todas se conheciam. Gente nova só acontecia quando um dos proprietários ficava ali só
por um mês, alugava a casa durante o outro mês – ou mesmo ia apenas em dezembro
ou março. Novas construções somente com uns anos de intervalo, três, quatro anos,
surgia alguma.
O hotelzinho também só surgiu com os motores, creio que só depois de haver
caminho rodável também para Campos, um pouco após o ônibus mirim de Chico Peres,
com seus 4 banquinhos onde só cabiam 3 pessoas. Antes havia um silêncio extraordiná-
rio, tal que se conversava baixo longamente sem sermos estorvados nunca – salvo por
Carta à Judith
Campos, 28 de março de 1976