Women's Health - Brasil - Edição 117 (2019-07)

(Antfer) #1

A BUSCA DE UMA GERAÇÃO
“Desde que existimos como seres humanos,
sempre quisemos viver mais”, diz Mark Jackson,
diretor do Wellcome Centre for Cultures and
Environments of Health da University of Exeter,
no Reino Unido. Vejamos o texto inspirador do
século 19 The Art Of Prolonging Life, em que
Christoph Wilhelm Hufeland descreve uma vida
longa como uma “arte medicinal”. Durante o
período do entre guerras, a ideia de que você podia
ser saudável e feliz na velhice se investisse na meia-
idade se arraigou na consciência da classe média –
uma marca que ganhou ainda mais peso com
os avanços da medicina e da saúde pública,
quando livros de autoajuda em abundância
prometiam o segredo da juventude.
Desde então, avanços científicos geraram
grandes progressos no nosso entendimento
da fisiologia da longevidade. Tanto os telômeros


(os cromossomos finais
do DNA que têm sido
comparados com o pavio
de uma bomba – quanto
mais longos forem,
melhor) como o gene
APOE (um tipo de
lipoproteína relacionada
com o Alzheimer e doenças
cardiovasculares) foram
descobertos nos anos 1990,
e o Y2K marcou o início do
Projeto Genoma Humano.
Nos anos seguintes,
pesquisadores se
dedicaram ao estudo
do genoma em busca de
variantes individuais que
afetassem a longevidade,

levando a manchetes sobre
a descoberta do suposto
gene da longevidade –
mas eles foram um pouco
precipitados. “Embora
seus genes afetem, sim,
por quanto tempo – e quão
bem – você vive, apenas
cerca de 15% da nossa
expectativa de vida são
determinados pela
genética”, acrescenta
Peter Joshi, pesquisador
especializado em
expectativa de vida da
University of Edinburgh
(Escócia). “Seu estilo de
vida e o meio ambiente
têm um papel bem maior.”
Foram esses hábitos
ambientais que atraíram
a atenção de Dan,
que – junto com Gianni –
começou a identificar
as regiões com maior
população de centenários
com o objetivo de
descobrir o que o resto
do mundo podia aprender
com eles. Ele adotou
o termo “zonas azuis”
e, nos 15 anos seguintes,
o desenvolveu

transformando-o no sinônimo de
lugares com as expectativas de vida
mais altas do planeta. Ele revisou
revistas científicas cuidadosamente e
recrutou pesquisadores e locais para
fazer um estudo dos comportamentos
que contribuem para uma vida longa
e saudável. Vamos nos aprofundar
nos aprendizados cruciais.

COMA COM CONVICÇÃO
Um dos pontos-chave em comum
entre os residentes das zonas azuis
do Japão à Costa Rica é a tendência a
uma alimentação baseada em alimentos
vegetais e naturais, não processados.
Estima-se que de 90% a 100% da dieta
deles é composta por plantas. “Os cinco
pilares da alimentação das zonas azuis

são grãos integrais, verduras, tubérculos
(batatas e outros), castanhas e feijões”,
explica Dan. É importante notar que os
habitantes não encomendam cardápios
desse tipo no iFood em uma tentativa
de viver essa vida de bem-estar.
O que acontece é que esses hábitos
alimentares permaneceram os suportes
principais dessas comunidades
tipicamente remotas e culturalmente
homogêneas durante gerações. Vejamos
aqueles que moram na península de
Nicoya, na Costa Rica, que, depois de
acordar cedo, interrompem seu jejum
com tortilhas de milho caseiras cobertas
com feijão-preto, jalapeños, queijo e
ovo. Dan descreve a mistura de milho,
feijão e abóbora, que forma a base
da dieta dos habitantes de Nicoya,
provavelmente como a melhor
combinação nutricional para a
longevidade que o mundo jamais viu.
“Quando esses três alimentos são
combinados, eles são baixos em gordura,
altos em carboidratos complexos e
fibras e contêm todos os aminoácidos –
que formam a proteína – necessários
para o sustento humano”, ele explica.
Quando perguntamos o que torna
essas dietas movidas a vegetais
especialmente saudáveis, David L. Katz,
colaborador de longa data de Dan,
diretor do Prevention Research Center

SARDENHA,


ITÁLIA
LONGEVIDADE
EM NÚMEROS
O tempo de vida
desses habitantes
supera o de outros
europeus em 20 ou
30 anos – e eles se
mantêm ativos até
os 90 e tantos.
O QUE ELES COMEM
Pães de massa
azeda repletos de
probióticos, leite de
cabra e de ovelha e
fartas sopas vegetais
estilo minestrone
com favas. O verão
traz abobrinhas,
tomates e berinjelas,
dos quais eles
extraem benefícios
máximos ao regá-los
com doses generosas
de azeite de oliva.
A carne é tanto
utilizada em cozidos
como assada em
ocasiões especiais.
GANHOS EM
BEM-ESTAR
Sexo semanal é
comum, assim como
beber três taças de
vinho tinto seco de
85 ml no almoço, no
jantar e até mesmo
no café da manhã.

A tendência nas zonas azuis é


uma alimentação baseada em


alimentos vegetais e naturais


Julho 2019 / WOMEN’S HEALTH 83


SAÚDE


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