Women's Health - Brasil - Edição 117 (2019-07)

(Antfer) #1
obrigação social de Okinawa, que
faz com que pequenos grupos de
mulheres se comprometam umas
com as outras durante toda a vida
e faz com que vizinhos se visitem
diariamente. Na Sardenha, onde os
mais velhos são vistos como guardiões
culturais, eles têm um papel ativo
na sociedade – assessorando
rotineiramente as autoridades sobre
decisões políticas. “Você não tem
essa sensação de isolamento que vejo
em tantas pessoas que moram em
cidades”, diz Thea, sobre o sentido de
comunidade de Ikaria.“É muito difícil
que alguém acabe sozinho aqui.”
Mas não é apenas o que os
habitantes das zonas azuis fazem –
nem como ou com quem – que
determina a fórmula da longevidade
deles; o porquê é vital também.
“Muitas pessoas simplesmente levam
uma vida sem rumo, acordando e
trabalhando ou sustentando suas
famílias inconscientemente”, diz
Dan. “Mas sabemos que aqueles que
têm um sentido de propósito vivem
de sete a oito anos mais, em média.”
Não só mais como melhor, de acordo
com um estudo de 2017 publicado
na revista científica internacional
JAMA Psychiatry, que descobriu que
pessoas com objetivos e com um forte
sentido de significado eram mais
capazes de se manter independentes
à medida que envelhecem.
A conexão entre qualidade de
vida na terceira idade e ter uma razão
de ser é real. E, embora a fé esteja
incrustrada na maioria das sociedades
das zonas azuis, ter um propósito não
depende necessariamente de uma
crença doutrinal definida. Trata-se
de encontrar ou fazer algo que lhe dê
a sensação de estar apegada a alguma
coisa mais profunda que chegar às 18h
com a caixa de entrada vazia.

FEITO PARA DURAR
Mas será que essas formas de vida
promovedoras da boa saúde têm força
e resistência em um mundo cada vez
mais conectado e globalizado? “Nós
temos uma grande população de
jovens em Ikaria que insiste em dar
continuidade às tradições e que têm
um forte sentido de vínculo com a ilha
onde vivem”, explica Thea. “Embora
avanços na tecnologia tornem
mudanças inevitáveis, nossa cultura é
praticamente a mesma.” Tendo se

mudado de Detroit para a
ilha quando recém-casada,
Thea acredita que, no fim
das contas, o que faz com que
eles vivam mais tempo e com
mais saúde que a maioria dos
habitantes do Brasil, por
exemplo, é a forma com que
olham além dos esforços do
aqui e agora, em direção a
algo no geral muito mais
permanente. “Nós não
valorizamos tanto o status
e coisas materiais; nossos
objetivos são alcançar a
felicidade. Continuamos
fazendo o que podemos,
não importa a idade que
tenhamos”, diz ela. “Quando
nos perguntam nossa idade,
nós, de Ikaria, dizemos o ano
em que nascemos. Não nos
preocupamos com a idade
que temos; uma pessoa de
80 anos pode estar sentada
do lado de uma criança de
12 em uma mesa de jantar
e as duas podem ter uma
conversa excelente.”
Uma mentalidade e
um estilo de vida longevos
podem ser aprendidos.
Se você não souber por onde
começar, tente inserir um
descanso entre o trabalho
e o almoço. Dan tira sonecas
de 15 minutos, mas gastar
alguns minutos com o
Headspace (aplicativo de
meditação guiada) ou ler um
romance na hora do almoço
funcionam igualmente bem.
Em uma era de terceirização
de todas as tarefas essenciais,
de fazer o jantar a colocar
uma prateleira, recupere
um pouco o controle sobre
as coisas e faça você mesma.
E se o seu trabalho for
simplesmente um meio
para alcançar um fim,
voluntarie-se por uma
causa na qual acredite
profundamente. Talvez
até mesmo com pessoas
em suas últimas décadas
de vida; se as excursões de
Dan com os centenários
do planeta servirem de
exemplo, você pode fazer
descobertas preciosas. •

Julho 2019 / WOMEN’S HEALTH 85


FOTOS ADICIONAIS: GETTY IMAGES


IKARIA, GRÉCIA
LONGEVIDADE
EM NÚMEROS
O número de pessoas
com 80 anos é duas vezes
maior que no Reino Unido.
O QUE ELES COMEM
A alimentação possui mais
legumes que qualquer
dieta mediterrânea.
Verdes ricos em vitamina
A, como dente-de-leão,
que cresce pela ilha toda,
batata, queijo feta e
massas azedas ricas em
probióticos são fartas.
Além disso, tomam dois
cafés fortes por dia.
Peixes, como sardinha e
anchova, são consumidos
apenas duas vezes por
semana, no máximo, no
litoral, e não mais que
duas vezes por mês pelos
residentes das montanhas.
GANHOS EM BEM-ESTAR
Comer vagarosamente
e ao lado da família
dos amigos. Comer
acompanhado está
relacionado, segundo
um estudo da University
of Illinois (EUA), a uma
redução de 12% nas
chances de sobrepeso.

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