Women's Health - Brasil - Edição 117 (2019-07)

(Antfer) #1
não é um sistema de
entrega de mensagens
livre de interferências; ela
atribui valores, determina
intenções e comunica
significados codificados”,
explica. Frases como “girl
boss” carregam certas
conotações. “Em resposta
a essa frase, você pode
estabelecer associações
subconscientes com a
palavra ‘girl’, por exemplo,
mandando a mensagem
ao seu cérebro que, sendo
uma ‘menina’ (tradução
de girl), ela não pertence
a uma sala de reuniões.”
Esse problema da
associação aflora até
mesmo na academia,
segundo a personal trainer
Ban Hass, dos Estados
Unidos. “Termos que fazem
referência à área de halteres
como ‘a sala dos garotos’,
por exemplo, isolam as
mulheres ainda mais”, ela
diz. “Eles fazem parecer
que nós não pertencemos
realmente àquele lugar – ou
que somos uma novidade.”
Além disso, esses termos
poderiam reforçar a ilusão
de que homens treinam com
força e propósito, enquanto
as mulheres se exercitam
como um hobby bonitinho.
Ao se referir a uma flexão de
braços modificada (com os
joelhos apoiados no chão)
como “flexão de menina”,
você está rotulando as
mulheres como o sexo mais
fraco, Ban argumenta.

MENSAGENS
CONFLITANTES
Voltando ao caderno.
Segundo a lógica de nossos
especialistas, a mensagem
que ele transmitia era
a de que Alice era uma
garota brincando de tocar
um negócio – e que, ao se
apresentar dessa forma, ela
estava infantilizando seus
esforços. Não surpreende
que ele tenha atraído olhares
pouco sutis. Em um estudo
realizado em larga escala em

2018 pelo Banco Mundial,
psicólogos estudaram 4.000
estilos de linguagem com o
intuito de explorar a relação
entre linguagem de gênero
e a participação na força de
trabalho. Eles concluíram
que termos que enfatizam
substantivos masculinos e
femininos pareciam reduzir
a participação feminina
na força de trabalho e
perpetuar o apoio a papéis
de gênero tradicionais.
Quando questionados
pela WH, os autores do
estudo explicaram que
termos como “girl boss”
chamam a atenção para o
fato de que a maioria dos
chefes não são mulheres.
O mesmo acontece com o
termo “empoderada”. A
mensagem que o cérebro
pode entender é que a
maioria das pessoas com
poder é do sexo masculino,
por isso os homens
não têm necessidade
de enfatizar isso.
Então você deveria
mandar “girl boss”, “mamãe
empreendedora” e outras
expressões do tipo para
a lata de lixo de uma vez
ou há algum espaço para
terminologias de gênero?
Natasha Stromberg,
fundadora do Genderbuzz,
um diretório de marcas
feministas, acha que
há. Ela acredita que dar
como perdida toda a
linguagem de gênero como
sendo potencialmente
problemática é perder o foco.
“O mais importante é que
as mulheres tenham acesso
a todas as áreas dominadas
tradicionalmente por
homens. E, se o uso de
termos como ‘girl boss’ as
ajuda a reivindicar esses
espaços para si mesmas,
então, para mim, eles
são uma coisa boa.”
Tally Rye reconhece o
mérito dessa abordagem.
A fisioterapeuta de 27 anos
começou com a hashtag
#ganhosdasmeninas

PAPO DE GAROTA MULHER
A psiquiatra Sarah Vohra (EUA) dá os conselhos
a seguir para você utilizar ao conversar com
crianças do gênero feminino.

CELEBRE SEU SUCESSO COM ELA
Se você bateu seu recorde pessoal ou ganhou um
aumento no trabalho, conte a ela diretamente ou
fale sobre isso com os outros quando ela estiver por
perto, assim você serve de exemplo.

PRIORIZE CONQUISTAS,
NÃO QUALIDADES ESTÉTICAS
Se ela mandou bem em, digamos, uma apresentação
de dança, fale sobre seu desempenho – sobre o que
seu corpo pode fazer –, não sobre quão adorável ela
estava vestindo seu tutu.

DIGA A ELA QUE ELA É BONITA
É saudável elogiar a aparência ocasionalmente.
No entanto evite comentários baseados
no tamanho, como “magra”.

88 WOMEN’S HEALTH / Julho 2019


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