A Gazeta Região Metropolitana - Edição 238

(Wilson) #1

http://www.grupoparanacomunicacao.com.br A Gazeta Região Metropolitana 29/06 a 05/07/2019 3


Palavra do Diretor

João Aloysio C. Ramos


Presença de “mula” em comitiva presidencial


evidencia falta de rígidos protocolos de segurança


É a hipótese com a qual a
polícia espanhola vem traba-
lhando. Em nota, a assessoria
da Presidência da República
afirmou que ele não trabalha na
Presidência da República e não
faria parte da comitiva presiden-
cial. Ele pertence ao Grupo de
Transportes Especiais da Força
Aérea Brasileira e exerce função
de comissário de bordo.

OPORtunismO
POLítiCO
É bastante oportunista ten-
tarem associar a atividade da
“mula” do tráfico ao Governo
Bolsonaro. Seria cômico se não
fosse trágico. Agora Bolsonaro
virou traficante de drogas? E é
tão ingênuo que leva suas “mu-
las” junto em suas viagens ofi-
ciais? O fato é que, por maior que
seja o desejo de se tomar posições
políticas nesse episódio, convém
aguardar o término do inquérito.
A começar por considerar que há
um dado que não está relaciona-
do apenas ao Governo Bolsonaro.
O sub-sargento da FAB (Força
Aérea Brasileira) já viajou ao me-
nos 29 vezes no Brasil e exterior
desde 2011, várias delas com sta-
ff presidencial. Ele cumpriu, por
exemplo, 14 roteiros entre 2016 e
2018, período em que o presiden-
te era Michel Temer. Em janeiro
do ano passado, por exemplo,
Rodrigues estava no grupo que
acompanhou o emedebista na
Suíça para o Fórum Econômi-

co Mundial. Houve também ao
menos quatro missões quando
o país era governado por Dilma
Rousseff. Em 6 de maio de 2016,
o militar estava no séquito da
petista em viagem a Juazeiro do
Norte (BA) e Cabrobró (PE) para
visitar as obras de transposição
do São Francisco. Em 2011, o
sargento também foi designado
para agendas de representan-
tes do Itamaraty em Washing-
ton, nos Estados Unidos, e Saint
John’s, em Antígua e Barbuda,
no Caribe.

FLaGeLO dO
tRáFiCO nas
FORças
aRmadas
Em meu ponto de vista ini-
cial, enquanto novos fatos não
se apresentam, acredito que não
se trate de algo deliberado, ou
de conhecimento da comitiva
presidencial. Creio que estamos
diante de um fato ilícito comum
ao tráfico de drogas. Como dis-
se o Vice-Presidente General
Mourão, as Forças Armadas não
estão imunes ao flagelo do tráfi-
co de drogas, no sentido de que
possa haver elementos flagrados
com esse tipo de conduta ilícita
dentro da instituição. Pelo que
se pode deduzir, esse sub-sar-
gento já deve estar acostumado
ao transporte da droga por meio
desse tipo de transporte militar,
pois sequer teve a decência de
mascarar o “bagulho”.Achou que

seria mole e resolveu arriscar.
Excesso de confiança dá nisso.
E, de repente, a casa caiu. Vale
notar que ele não foi pego por
pessoal alfandegário brasileiro,
mas, sim, pela alfândega espa-
nhola em operação de rotina.
O militar, há indícios, de que
não tenha sido dedurado, justa-
mente porque a revista não foi
na aeronave, mas, sim na sua
bagagem. Ia ficar em Sevilha,
foi pegar sua mala, passou pelo
Raio-X e foi pego, como aconte-
ceria com qualquer um que esti-
vesse na mesma situação. Então,
penso que fazer ilações e con-
jecturas precipitadas de cunho
político-ideológico só gerará
mais discórdia e divisões entre
a opinião pública.

FaLhas nO staFF
de seGuRança
Porém, não se pode fazer
vista grossa também ao fato de
que a segurança e fiscalização
das Forças Armadas merece
críticas severas. Fico pensando
que, se droga entrou, bomba
também entraria. A segurança
do presidente não tem feito um
bom trabalho. Foi a primeira
coisa que pensei quando vi a
notícia: não seguem nenhum
protocolo de segurança presi-
dencial. Quanto às Forças Ar-
madas serem blindadas, como
muita gente acredita, penso ser
temerário assim pensar. O que
não conseguimos ainda enten-

der é como essa droga entrou no
avião no Brasil. Esse “cara” não
agiu sozinho. Vejamos bem: 39
kg de cocaína não são para uso
pessoal. Evidentemente, são
para o tráfico de drogas. E o que
mais me espanta é um Presiden-
te da República que sofreu uma
tentativa de assassinato contar
com uma equipe de segurança
tão relaxada.

aBin
desmanteLada
Onde está a Abin, a agência
de inteligência do Estado Bra-
sileiro, que, comenta-se muito,
foi desmantelada? O Presidente
Bolsonaro é altamente rodeado
pela segurança das Forças Ar-
madas e segurança particular.
Portanto, negar a negligência
das Forças Armadas neste caso
é o mesmo que passar recibo. A
confiança era tanta que a droga
nem estava camuflada, segundo
jornais espanhóis. Enfim, que
este caso sirva de lição ao Go-
verno Federal, que uma inves-
tigação séria e profunda seja re-
alizada nas Forças Armadas, em
conjunto com a polícia espanho-
la e que o aparato de segurança
das comitivas e das comitivas de
apoio, sejam amplamente revis-
tos. Pois, é bem possível que esse
militar não tenha agido sozinho
e haja mais militares envolvidos
nesse episódio, no mínimo, ver-
gonhoso internacionalmente
para o país.

O episódio do segundo-sargento da Aeronáutica, Manoel Silva Rodrigues, preso pela polícia espanhola
com 39 kg de cocaína numa avião de apoio à comitiva do Presidente Jair Bolsonaro, na certa, se bem
investigado, destrinchará os tentáculos de uma quadrilha internacional de tráfico de drogas.
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