Visão 1373 [27-06-2019]

(claudioch) #1

Varia~ões so~re o MoDelo Ue Krae~elin lis~oa


Cair aos bocadinhos


Depois de "Retrato de Mulher Árabe que Olha o Mar", há mais um texto do
italiano Davi de Carnevali a ser encenado com a marca dos Artistas Unidos



Esta peça tem de
verdadeiramente
interessante o facto de
o encenador Gonçalo
Carvalho ter colocado nos
papéis de pai, filho e
médico três atores que aparentam
a mesma idade. O texto de Davide
Carnevali é j á de si poderoso e ganha,
assim, uma dimensão nova, de
desdobramento de tempos e de papéis.
Variações Sobre o Modelo de
Kraepelin conta a história de um filho
que toma conta do pai demente (com
Alzheimer) e da sua relação com
um médico muito peculiar.
"- Papá. [Silêncio.) Tive um sonho
mau. - O que sonhaste? - Com o
diabo. -O Diabo não existe. -Vinha-
-me buscar. - Quem é que te meteu
essas coisas na cabeça?" Na primeira
cena, vemos o pai a chamar ao filho
de pai e o filho, cuidador, no papel de
progenitor. "Eu gosto de textos que,
à partida, são um não sítio, não têm


...


um lugar e permitem-me a opção
de colocar aquilo em qualquer sítio.
Interessam-me as não regras desse
lugar, porque me proporciona não
ter pudor", diz Gonçalo Carvalho.
"A nível pessoal, tenho uma ligação
muito forte a esta peça porque o meu
avô teve Alzheimer. Experienciei
muito este sentimento de impotência
perante uma pessoa por quem se
tem amor e não se poder fazer nada",
conta o encenador. O elemento que
desequilibra esta narrativa não é a
relação entre os dois mas a relação de
cada um consigo próprio - perante
a existência daquele facto, daquela
imposição chamada demência.
O médico é uma entidade estranha,
sobre-humana, que paira sobre pai
e filho, que os observa e analisa,
com o discurso a rondar o mordaz
e o surreal. A última cena da peça é a
reprodução da primeira - mas em vez
de ouvir a voz do Diabo, o pai ouve a
voz de Deus. lll Cláudia Marques Santos

Teatro da Politécnica> R. da Escola Politécnica, 54, Lisboa> T. 21 3916750 > 26 jun-13 jul



ter e qua 19h, qui e sex 21h, sáb 16h e 21h (qui 4 e sex 5 jul, 19h) > €6-€10



Until Ou r Hearts ~to~ lisooa


Chega a ser claustrofóbico
ver a arquitetura e as
construções feitas de
corpos do.,s seis bailarinos
em palco. São mais de duas
horas de tensões e toques
Levados ao Limite das forças
e da resiliência. É isso
que interessa explorar à
norte-americana que passa
os dias entre Bruxelas
e Berlim, Meg Stuart.
Acompanhados por três
músicos de jazz, estes três
homens e três mulheres
comunicam através do
corpo e cabe Lá tudo,
entre o bem orquestrado
e a total improvisação:·
sexo, folia, gracejo,
desconforto, desencontro,
raiva, superação, desejo,
descoberta, espanto,
desilusão, ilusão ...
-explanados ao ponto de
Lhes permitir atingirem uma
certa inocência fundadora
através do êxtase.
Os intérpretes passam,
também, por um momento
de contacto com o público
-aproveitando, talvez,
para descansarem os
corpos de tanta exigência
física e emocional e dando
aos espectadores uma
consciência do seu papel
de voyeurs.lll C.M.S •

...
Culturgest > R. Arco do Cego, 50,
Lisboa> T. 21 790 5155 > 27-28 jun
> qui-sex 21h > €18

27 JUNHO 20 1 9 VISÃO 119
Free download pdf