Visão 1373 [27-06-2019]

(claudioch) #1

SOPHIA BERGQVIST
58 ANOS •


PROPRIEDADE
Quinta de La Rosa


PRODUÇÃO
Nos 55 hectares,
fazem-se vinhos muito
diferentes, assim
como azeite e vinagre
de vinho do Porto,
num total de 400 mil
garrafas anuais.


OBJETIVO
"Sou inglesa, mas
o meu coração é
português, porque
tenho uma paixão
pelo Douro. É onde
quero ficar."


44 VISÃO 27 JUNHO 2019


A HERANÇA DA AVÓ CLARA


Sophia tem orgulho em perpetuar a quinta que a sua avó inglesa
recebeu no batismo, socorrendo-se da inovação

N


ão sei onde vivo", desabafa Sophia
num português esforçado, enquanto
se dirige para o aeroporto de Londres
de regresso ao Douro. "Passo um terço
do ano em Portugal, outro terço em Inglaterra e
outro a viajar." Este pedaço de terra a norte esta-
va-lhe destinado no sangue, na alma. Quando era
pequena e ia de férias para a Quinta de La Rosa,
que a sua avó materna recebera de presente de
batismo, custavam- lhe sempre as despedidas
emocionadas, ao mesmo tempo que as histórias
daquele sítio a encantavam. Saber que a sua avó
Clara vivera ali sozinha, nos anos 1950, depois de
se divorciar, e sem dinheiro, enchia-a, e continua
a enchê-la, de orgulho (o restaurante da quinta
tem o nome dessa avó). A gestão da propriedade
passou, depois, para o pai, que investiu tudo o que
tinha e não tinha para manter as vinhas na família.
Entretanto, Sophia formara-se em Management
Consulting, em Inglaterra, fizera o mestrado no
Insead e trabalhava como consultora em Londres
e Paris. Tudo isso ficou para trás, quando o pai lhe
pediu para o ajudar a reabilitar a quinta da avó.
Até então, apenas vendiam uvas às grandes mar-
cas, como era habitual no Douro. Mas, em 1988,

decidiram criar um nome próprio, socorrendo-se
dos amigos, numa ação que hoje seria apelidada de
crowdfunding. Cada pessoa que investisse mil libras
nesse vinho receberia 20 caixas de Porto naquele
ano-conseguiram juntar 200 mil libras (cerca de
€223 mil). E, assim, foram os primeiros a contor-
nar o monopólio das grandes casas, com a venda
direta e sem sequer terem armazéns em Vila Nova
de Gaia. Quatro anos depois, passaram a dedicar-se
também ao vinho de consumo (a primeira colheita
foi toda vendida a dois clientes em Inglaterra) e os
primeiros lotes foram quase artesanais. "Ainda me
lembro de estar a colar rótulos à mão, com a minha
mãe." Ao mesmo tempo, começaram a alugar um
quarto a turistas, ainda sem lhe chamarem ena-
turismo. Hoje, a Quinta de La Rosa tem 27 camas
na vizinha Quinta Amarela, a quatro minutos do
Pinhão e mesmo em cima do rio.
Aos 28 anos, Sophia encarregou-se da parte fi-
nanceira, enquanto o pai -que morreu há um ano


  • tomava conta das vinhas e da produção do Porto.
    Hoje, continua responsável pela parte comercial,
    pelo enoturismo e pelo restaurante. O resto vai
    passando, lentamente, aos três filhos, todos na casa
    dos vinte. "A vida das vinhas é dos jovens."

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