Visão 1373 [27-06-2019]

(claudioch) #1
Santos Silva [ministro dos Negócios
Estrangeiros], mas a verdade é que
ele nunca explicou ao País qual é a
política externa que está a prosseguir.
Na Defesa também tem sido hábito,
neste Governo, os ministros falarem
pouco; na Administração Interna fa-
lam um pouco mais, mas nem sempre
acertam; e a Justiça é o silêncio total,
correspondente a uma grande inação.
O PSD teria aqui um primeiro campo
de afirmação, que não só seria útil ao
País como também agradaria ao seu
eleitorado.
Identifica outros campos de afir-
mação?
Se o PSD estivesse tão atento às notí-

''


cias do dia a dia como o PCP e o BE,
teria muito a dizer. O PSD já devia ter
exigido medidas urgentes e de efeito
imediato para deixar de haver pessoas
um ano à espera de intervenções
cirúrgicas oncológicas. É inadmissí-
vel! Outro: habitação social. Um tema
muito esquecido pelo atual Governo
e pelos anteriores. Ainda outra: pode
lá admitir-se que um cidadão que se
reforma espere um ano ou mais para
começar a receber a pensão a que tem
direito?
O Presidente da República falou,
recentemente, de uma crise na
direita portuguesa para os pró-
ximos anos. E o dr. Rui Rio disse

Só não digo que o PS


é um partido centrista,


para não ofender ...


que a crise era do regime ... Em que
posição o senhor se situa?
É evidente que há uma crise da direi-
ta, independentemente dos resultados
que venha a obter em outubro. Isso
vem ainda dos custos da austeridade
que tiveram de i.mpor-mas im-
puseram de uma forma excessiva e
deficientemente explicada. Por outro
lado, não encontraram ainda um
discurso alternativo. Mas acho que
não há uma crise do regime. O que há
é uma crise da participação eleitoral,
e essa tqca a todos. Mas não acredito
em abstenções de 70 por cento.
Os números da população recenseada
estão claramente inflacionados.
Já se declarou a favor do voto obri-
gatório.
Sim, mas já percebi que a ideia não
pega. Mas há formas de tornar o voto
mais apetecível. Ao menos, deve haver
uma alteração da lei eleitoral, que
permita aos eleitores escolherem os
seus representantes. Podendo mudar
a ordem por que se apresentam nas
listas. Ou adotar, por exemplo, o
modelo alemão: metade da lista é a do
partido, a outra metade é escolhida
pelo eleitor, criando círculos unino-
minais. E isso a nossa Constituição até
já permite!
Se houve eleições bem participadas
foram as presidenciais de 1986 em
que, à segunda volta, contra Mário
Soares, o senhor obteve quase
49 % dos votos. Conta, neste 3º vo-
lume das memórias, que um grupo
de apoiantes seus, radicais, queria,
depois das eleições, fazer um gran-
de comício de desagravo, no Porto,
e talvez marchar sobre Lisboa, por
não aceitar os resultados eleito-
rais ... Como foi isso?
Eram pessoas com instintos de ex-
trema- direita. Essas pessoas queriam
avançar, de facto, com essa iniciativa.
Recusei sem hesitar e sem sequer
me aconselhar com ninguém. Tive a
noção de que aquilo podia descontro-
lar-se.
Um dos perigos que os seus adver-
sários apontavam à sua candida-
tura era o de que, por detrás de si,
se acoitavam forças extremistas
e saudosistas. Esse episódio não
confirma isso?
Era um argumento eleitoral usado na
campanha. O episódio confirma que
havia forças dessas que me apoiavam,
mas também confirma que eu tinha
capacidade para lhes resistir e para as
pôr na ordem. Alguns deixaram de me

2 7 J U N H O 2 O 1 9 V I SÃ O 49
Free download pdf