do ramequim e se espalhando no balcão como um deslizamento
de terra.
Estou arrasando nessa coisa de cozinhar.
Com um suspiro, limpo tudo com um pano de prato, passo a
carne para uma travessa e coloco tudo na mesa com tempo
contado para correr lá para baixo e trocar de camisa antes da
campainha tocar.
Marley.
Ajeito meu cabelo e subo os degraus, dois de cada vez,
deslizo para o corredor e abro a porta.
Ela está usando uma capa de chuva amarelo-limão, a cor
contrastando com o céu cinza e nublado, a chuva caindo em
volta dela.
— Ei — eu digo, me inclinando casualmente no batente.
— Ei — ela diz, apertando os olhos para me ver através da
chuva. Ela aponta com a cabeça para a água que cai constante.
— Eu poderia, talvez... entrar?
— Ah, claro. Sim — eu digo, abrindo a porta por completo. Ela
entra e tira o capuz, seu cabelo mais pesado do que de hábito
por causa da chuva. Meus olhos focam em uma mexa rebelde
que está tentando escapar do rabo de cavalo dela.
Eu quero colocá-la atrás da sua orelha, daquele jeito que ela
sempre faz, mas em vez disso pego a jaqueta dela. Eu a penduro
na maçaneta do porão para secar enquanto ela olha em volta do
corredor, para todas as fotos. Ela para na minha frente, espiando
escada abaixo.
— O que você tem ali embaixo? — Ela pergunta.
— Alguns cadáveres — eu brinco e ela revira os olhos,
cutucando meu ombro, achando um tantinho de graça. — O meu
quarto fica ali embaixo.
Ela parece intrigada.
— No porão?
— É. Eu mudei pra lá no segundo ano do ensino médio,
quando minha mãe terminou de reformar — eu digo e aponto os
degraus com a cabeça. — Sam e Kim costumavam entrar
escondidos por uma porta ali embaixo. Dá direto no quintal.
car0l
(CAR0L)
#1