sei. É... a gente. Você sabe.
A gente. Meu coração bate com força no meu peito com essa
palavra. Eu engulo em seco, observo-a colocar os dedos
embaixo das asas do pássaro e dar uma coçadinha, as penas
dele arrepiadas antes de se assentar alguns segundos depois.
Ele esfrega o bico no braço dela, mais carinhoso do que eu sabia
que patos podiam ser.
Eu cruzo as pernas uma sobre a outra e me inclino para trás,
tentando ignorar a sensação que as palavras dela causaram em
mim.
— Bom, me abandonar no jantar desse jeito não foi legal —
eu digo, tentando ficar sério. — Eu gastei uma hora preparando
aquele molho e você nem o provou.
Eu dou uma olhada de lado e vejo os olhos dela arregalados,
seu rosto atordoado.
— Então — eu digo, o “a gente” ainda ecoando nos meus
ouvidos. — Eu mereço uma segunda chance.
— Uma segunda chance? — ela pergunta, o pato e ela me
encarando.
— Sem pais — eu digo, olhando nos olhos do pato. — Ou
patos. Só nós dois.
O pato grasna em resposta, suas penas se arrepiando
enquanto eu e Marley rimos.
— Só nós dois — ela diz pensativa, hesitante, até aquele
sorriso tímido chegar aos seus lábios. — O.k.
Nós ficamos ali mais meia hora, observando o sol se pôr,
nossas pernas quase se tocando. Depois volto para casa
correndo, ainda tentando entender como me sinto a respeito de
tudo isso.
Não era isso que eu esperava desta noite.
Eu pensei que ela iria zombar do molho grudento ou das
minhas parcas habilidades para dobrar guardanapos. Pensei que
talvez ela se abrisse e me contasse um pouco mais de sua
história triste.
Mas agora eu tenho ainda mais perguntas.
A questão é... Eu sei exatamente o que ela quis dizer com “a
gente”. Nós simplesmente entendemos um ao outro. E embora
car0l
(CAR0L)
#1