Eu a encaro de volta. Eu preciso fazê-la entender.
— E se você acordasse amanhã e eu tivesse sumido e todo
mundo te dissesse que eu nunca existi? — Eu pergunto baixo. —
Você deixaria de me amar, mãe?
Eu a vejo hesitar, sua mão procura o apoio de braços da
minha cadeira: só pensar nisso já é demais para ela. Lágrimas
enchem seus olhos e os dedos dela tocam o meu braço e o
aperta, quase como se ela estivesse checando se eu realmente
estou aqui.
— Eu também não consigo — eu sussurro.
À tarde, quando minha mãe vai embora, eu pego meu iPad da
mesinha, mas de alguma forma eu não consigo me convencer a
procurar no Instagram imagens de todas as Marleys do mundo.
Eu sei por instinto que ela não tem uma conta. Quer dizer, ela se
recusava a escrever no computador, preferindo escrever num
caderno. Ela nunca teria um Instagram.
Então o que eu devo fazer? Como vou achá-la?
— Posso entrar?
Eu ergo os olhos e vejo Kimberly na porta, seu braço sem
tipoia, uma pequena tala azul em volta do pulso. Seus olhos
azuis fixam nos meus. O fogo se foi, substituído por algum tipo
de compreensão. Ela está me olhando como se me entendesse
melhor do que eu mesmo posso.
— Sam me contou — ela diz. — Da sua outra vida.
Sua outra vida. As palavras são como facas. Eu tento me
conter, me controlar. Mas as lágrimas caem, não importa o
quanto eu lute contra elas.
Ela corre até mim, me abraçando.
— Tudo bem — ela diz, me abraçando enquanto eu choro. —
Vai ficar tudo bem.
Ela não me força a falar. Ela só fica sentada comigo, em
silêncio, deixando que eu me acalme o suficiente até pegar no
sono. Eu só encontro alívio na escuridão atrás das minhas
pálpebras. Por um momento que seja, nada dói. Nada está de
cabeça para baixo. Nada é.