— O.k. — ela diz, apontando para o botão de chamada. — Se
mudar de ideia, só...
— Não vou — eu digo, cortando-a. Depois de um ano vivendo
em um sonho é hora de saber o que é real.
Ela assente e me estuda por um momento antes de ir
embora. Eu me enrolo na cama, virando de costas para a minha
mãe, tomado pelo sentimento de perda tão familiar que me
consome. Porque o que me vem à mente não são os dias
importantes, como quando fomos para o Festival de Inverno ou
celebramos o Halloween. São todos os momentos pequenos e
desimportantes com os quais eu não me importei. Dar pipoca
para os patos juntos, ou vê-la fazendo um dos seus buquês, ou
passear com Georgia. Coisas que eu achei que faríamos
centenas de vezes.
Tudo se foi.
Na tarde seguinte, finalmente encontro forças para sair da cama.
Para encarar o mundo. Minha mãe me leva pelo corredor até o
pátio, onde o sol quente faz a água em volta da fonte brilhar.
— Vou pegar um sanduíche rapidinho — ela diz, apontando
com a cabeça para o café que fica do outro lado do pátio. —
Quer alguma coisa?
Eu sacudo a cabeça, negando, e dou um pequeno sorriso.
— Não vou fugir enquanto isso. Não se preocupa.
Ela aperta meu ombro e segue pela trilha, desaparecendo de
vista.
Eu olho em volta, para as cerejeiras. A madressilva. As flores
amarelas e cor-de-rosa, suas pétalas misturando-se.
Ela nunca foi real, mas tudo que eu vejo me lembra dela.
Quão doido é isso?
Eu vejo Sam vindo na minha direção, suas mãos enfiadas nos
bolsos enquanto ele esmaga as pétalas sob seus pés sem notar.
— Você está bem? — Ele pergunta quando chega mais perto.
Eu faço que sim e tiro meus olhos das pétalas pisadas.
— Sim. E você?