luzes florescentes piscando enquanto sou levado pelo corredor;
um médico carregando uma criança, lágrimas caindo pelo rosto
do menininho; uma mulher mais velha arrastando um tanque
verde de oxigênio atrás de si; uma menina de cabelo castanho
comprido lendo um livro. Este livro.
Eu olho para a porta e é aí que fico cara a cara com os
mesmos olhos cor de mel daquela noite. Os olhos com os quais
sonho há semanas.
Mas, dessa vez, eles são de verdade.
É ela.
Marley.
— É você — eu digo, observando-a e me movendo na sua
direção o mais rápido que minhas muletas permitem. — Eu não
te inventei.
Algo nela parece diferente. Ela está mais pálida. Mais magra.
As olheiras empalidecem a cor vibrante dos seus olhos e os
escurecem. Seus ombros estão curvados, inclinados para a
frente, como se ela estivesse escondendo algo que não quer que
ninguém veja.
E, para completar tudo isso, ela está vestida da cabeça aos
pés com cores escuras, do cinza escuro do moletom até os
sapatos pretos.
Não há nenhum traço de amarelo. O que aconteceu?
— Marley — eu digo, estendendo a mão. — Sou eu. Kyle.
Quando eu me movo na direção dela, no entanto, ela sai
correndo da sala e desaparece atrás de uma curva. Eu ajusto
minhas muletas embaixo dos braços para segui-la, mas quando
chego no corredor, não sei para que lado ela foi. Ela sumiu.
Vejo a mãe dela no final do corredor e congelo. Sei que
preciso desistir e voltar para o quarto, então eu saio da
cardiologia e volto para minha ala do hospital. Quando chego lá,
eu desmonto na cama e solto o ar longamente.
Eu a vi. Ela me viu. Ela é real... mas fugiu. Meu estômago
contrai pela milésima vez. Isso não pode ser bom. Uma garota
literalmente fugir correndo de você.
Agora que consegui identificá-la de antes do coma, isso
significa que meu cérebro criou uma personalidade toda nova
car0l
(CAR0L)
#1