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Alguns dias depois, vou para a área externa do hospital e
Marley está no café do pátio. Kim passou boa parte da manhã
xeretando o hospital, tentando descobrir mais informações.
Quando ela parou para comprar um café gelado, ela deu de cara
com Marley e me avisou.
Agora que estou aqui, porém, eu não tenho ideia do que
fazer.
Olho de relance e vejo que Marley está com a cara enterrada
num livro, o cabelo cobrindo o rosto. Eu a observo por um
momento, a forma como ela está sentada me faz lembrar os
raros momentos em que ela falava de Laura, quando as histórias
tristes que ela se recusava a contar jogavam uma sombra sobre
ela.
Dou uma olhada no cardápio e vejo que eles servem chá
gelado. Outra ideia surge na minha cabeça. Como se esse
momento fosse destino.
Uma forma de falar com essa Marley. Eu posso escrever.
Faço meu pedido curiosamente específico e roubo uma
caneta do caixa para escrever um bilhete na parte de trás do
recibo. Marley. Você achou que eu não fosse te ouvir, mas eu
ouvi. Eu ouvi suas histórias, os contos de fadas. E vivi um... com
você. Eu sei que você não tem essas mesmas memórias, mas
você foi meu mundo inteiro enquanto eu dormia. Sinto falta de te
ouvir. Por favor fale comigo de novo. Quando você estiver pronta,
eu estarei aqui.