diz, puxando um cronograma organizado por cores e erguendo
seus óculos de sol para a testa.
— Como você conseguiu isso...?
Kim observa em volta, ainda agindo como uma espiã e
olhando com desconfiança para uma mesa ao lado da nossa.
— Não pergunte — ela diz, passando os olhos pela folha e
apontado para um bloco azul rotulado CATHERINE PHELPS. — Enfim,
a mãe dela trabalha em turnos de doze horas às segundas e
terças e de sexta a domingo. Eles deixam a Marley ficar por aqui
porque ela é quieta. Ela lê muito. Dá uma volta pelo hospital todo
dia antes de almoçar sozinha perto da fonte.
Ela dá de ombros e passa o cronograma para mim por cima
da mesa.
Eu o dobro e enfio no bolso, bem impressionado com quanta
coisa Kim descobriu, mas ela ainda não acabou.
— Mas sabe qual a coisa mais estranha? Você não é o único
com quem ela não fala. Ela não fala com ninguém. Então eu não
tenho certeza de que você conseguirá fazê-la ceder.
Mas eu sei que posso. Porque já aconteceu antes. Ela pode
não falar com mais ninguém, mas em um momento ela falou
comigo. Isso é suficiente, mas não tenho como explicar para Kim
agora.
Kim se inclina para trás e dá um gole longo e pensativo em
seu café gelado.
— Mas eu me pergunto por quê? Quem se recusa a falar se é
capaz?
Eu penso no cabelo de Marley cobrindo seu rosto, seus
braços cruzados com força sobre o peito enquanto ela ia embora,
contraindo cada parte de si, como um caracolzinho.
— Alguém que está se escondendo da vida.
car0l
(CAR0L)
#1