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Na noite seguinte nós nos encontramos na sala de espera
da cardiologia e Marley me entrega seu caderno amarelo onde
estão as histórias.
É tão legal ver a história que ela escreveu para nós, um
mundo no qual eu vivi por um ano e que está aqui no papel.
Consigo identificar as passagens que meu cérebro preencheu as
lacunas, construindo e criando memórias reais a partir de cada
uma das suas frases.
Conto para ela sobre essas memórias. Como eu achei que
Kim tinha morrido no acidente. Como eu quase fiquei louco
tentando fazer o molho bérneaise da minha mãe. Como eu
briguei com Sam em um sábado em um dos nossos jogos de
futebol.
Os parágrafos sobre a vez que alimentamos os patos no lago
arrancam risadas: um pato grande marrom e branco quase
arrancou meu dedo enquanto Marley ria, divertida. Eu olho para
ela sentada do outro lado do sofá, admirando o leve sorriso em
seu rosto. A menina por quem eu me apaixonei.
Real.
Eu analiso as olheiras em volta dos olhos dela, a cortina de
cabelo que a esconde do resto do mundo. A tristeza dela é mais
pesada agora do que no sonho porque ela me deixa vê-la por
inteiro. Ela não se esconde atrás das palavras, escrevendo sobre
a pessoa que ela desesperadamente quer ser. Às vezes a
escuridão a toma por completo, mas eu consigo ver a Marley que