Minha mão congela sobre o botão e uma lembrança toma
conta de mim. Minha mãe viajando, Kim acordando ao meu lado,
seu rosto amassado e sonolento.
— Quem ainda usa um despertador desse tipo? — Ela tinha
resmungado, puxando os lençóis acima de seus cabelos loiros e
se aconchegando mais perto de mim enquanto eu o desligava, a
corrida matinal que eu deveria fazer com Sam esquecida no
momento em que ela se aninhou nos meus braços.
Mas eu acidentalmente apertei o botão errado e quinze
minutos depois o alarme estava disparando de novo, alto e
insuportável. Kimberly acordou de um salto, completamente
ereta, e atirou a coisa do outro lado do quarto. Eu me lembro do
quanto rimos, a luz do sol entrando lentamente pela minha
janela, jogando um brilho quente no rosto dela.
Nunca tinha visto algo tão bonito. Eu quase consigo vê-la...
BIP, BIP, BIIIIIIP...
Eu me inclino para baixo e arranco o fio da tomada. O alarme
para abruptamente e o rosto de Kimberly some como um sonho
ao acordar. Meu peito aperta e me esforço para tirar o suéter,
meus braços se enrolando enquanto brigo com ele. Eu puxo até
o tecido finalmente ceder e um suspiro escapa dos meus lábios
quando eu o arranco e jogo no encosto da cadeira da
escrivaninha.
Eu olho em volta do quarto, para todos os cantos que Kim
costumava preencher, e percebo que eu não me preparei para
essa parte. Eu estava tão focado em voltar para casa. No fato de
que eu estava perdendo o funeral ela. Em ser forte suficiente
para sair do hospital no qual minha namorada morreu.
Eu nunca pensei no depois.
Uma semana mais tarde eu abro a porta da frente e a luz da
manhã está batendo forte demais nos degraus de madeira da
varanda. Nada mudou de verdade desde que voltei para casa. A
entrada ainda é ladeada pelas flores de cheiro doce que minha
mãe plantou, a entrada da garagem ainda está toda rachada, a
cerca de madeira branca ainda precisa desesperadamente de
uma pintura.